É glorioso que exista, no começo deste século, uma noção inédita de que o planeta não é uma lixeira sem fundo. Bem ou mal, o discurso verde pegou.
Não é consenso, porém, que banir as sacolinhas seja uma vitória ambiental. Existem pelo menos três questões importantes que são levantadas pelos ambientalistas.
A primeira se refere ao fato de que as sacolinhas representam fração bem pequena do lixo nacional: 1,29%.
Certamente as sacolinhas criam problemas sérios, como entupimentos na rede de esgoto e danos à vida marinha. Mas é necessário tomar cuidado para não torná-las um bode expiatório ambiental, deixando em segundo plano questões mais importantes, como o aquecimento global ou o desmatamento.
Corremos o risco de ver o sujeito que vai ao mercado com a sua camionete movida a diesel se considerando ecologicamente correto por usar uma ecobag.
Nas palavras do cientista ambiental britânico James Lovelock, a preocupação atual com as sacolas é como estar no Titanic afundando e se preocupar em "reorganizar as cadeiras no convés".
A segunda crítica é que as sacolas vão ser substituídas por outras, biodegradáveis, feitas a partir de milho.
Elas se decompõem rapidamente, algo maravilhoso, mas há de questionar até que ponto vale à pena usar comida para fazer sacolas, inflacionando alimentos.
A última questão se refere a quem vai pagar a conta. Quem assinou o acordo foram os supermercados e o governo estadual, mas o custo ficará para o consumidor.
Cada sacolinha de milho vai custar R$ 0,19. Hoje, os mercados incorporam ao preço dos produtos o custo das sacolinhas. Isso vai ser devolvido ao cliente?
Em tempos de marketing verde, parece que os supermercados ganharam uma oportunidade única de reduzir custos e, de brinde, vender uma imagem de ecologicamente corretos.
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Fonte: Folha.com (26.04.11)