Gilvandro Araújo, do Cade, deputado Roberto Santiago, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, e Wilson de Melo, da Brasil Foods.
Em meio à expectativa do julgamento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a fusão entre a Perdigão e a Sadia, que pode ocorrer amanhã, deputados divergiram nesta terça-feira, em debate na Comissão de Defesa do Consumidor, sobre os efeitos da operação. Para Reguffe (PDT-DF), a fusão deverá gerar alta nos preços e fechamento de postos de trabalho. Já para Valdir Colatto (PMDB-SC), a operação pode fortalecer o mercado interno e aumentar o volume das exportações brasileiras.
A Brasil Foods foi criada em maio de 2009 com a compra pela Perdigão dos ativos da Sadia. Na época, a Sadia estava endividada. O processo até hoje não foi analisado pelo Cade. O julgamento começou em junho deste ano, mas foi suspenso por um pedido de vista após o voto do relator, Carlos Ragazzo, contra a fusão. Faltam ainda quatro votos para o término da votação.
Para Reguffe, o aumento dos preços aos consumidores é a “consequência natural” da fusão entre as empresas. “No segmento de massas, por exemplo, a Brasil Foods deve dominar 88% do mercado. No de carnes congeladas, 70%. Qualquer entendedor básico de economia sabe que , quando você concentra mercado, reduzindo a concorrência, aumenta o preço ao consumidor num ponto futuro.”, disse.
Já o vice-presidente de Assuntos Corporativos da Brasil Foods, Wilson de Melo, argumentou que a concentração de mercado é limitada a alguns produtos com pouca penetração no mercado nacional, como o de massas pré-prontas. Além disso, segundo ele, a concorrência existente hoje já é suficiente para barrar os preços. “Pode não haver concorrência hoje do mesmo tamanho da Brasil Foods, mas isso não significa que a concorrência atual não nos impeça de cometer erros em relação aos consumidores, como, por exemplo, subir os preços”, garantiu.
Empregos
O deputado Ivan Valente (Psol-SP), que junto com Reguffe requereu a reunião de hoje, lembrou também que a tendência é que a fusão gere demissões. “Essa é a prática em qualquer processo de fusão de empresas”, disse.
O deputado Leandro Vilela (PMDB-GO) discordou. Ele afirmou que o grupo vem gerando novos postos de trabalho. Segundo Wilson Neto, foram 6 mil novas vagas abertas em janeiro deste ano. “A situação atual é contrária. Temos até dificuldade em preencher esses postos”, afirmou. A Brasil Foods emprega hoje, direta e indiretamente, 320 mil pessoas.
Acordos
Nos últimos meses, o Cade e a Brasil Foods vêm realizando reuniões para acordar medidas que possam evitar a reprovação da fusão e um possível processo judicial. Entre as propostas da empresa, estão a venda de fábricas e centros de distribuição, e a alienação de marcas controladas pela companhia. A ideia é convencer o Cade de que as medidas vão fortalecer algum concorrente do setor alimentício no mercado interno.
O procurador-geral do conselho, Gilvandro Vasconcelos Araújo, que também participou do debate, defendeu o acordo entre a empresa e o órgão. “A decisão que saia de um consenso é sempre preferível. Contudo, qualquer que seja o acordo, deve-se ter em vista a efetivação de uma concorrência efetiva à Brasil Foods no País e a manutenção dos empregos atuais”, disse.
Fonte: Câmara dos Deputados (12.07.11)