Barril de pólvora

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Unidos, importadores, sommeliers e chefs buscam argumentos para impedir o aumento do Imposto de Importação sobre vinhos e criam disputa com os produtores gaúchos


LUIZA FECAROTTA

DE SÃO PAULO


As reações ao pedido dos grandes produtores gaúchos para a criação de uma salvaguarda para o vinho brasileiro não param de crescer.


Em uma semana e meia, uma corrente de retaliação promove um boicote ao rótulos nacionais nos restaurantes e nas lojas, uma grande marca tirou seu nome da disputa e a controvérsia ganhou dimensão internacional.


Unidos, importadores, chefs, "restaurateurs" e sommeliers buscam apresentar argumentos ao governo antes que medidas como o aumento do Imposto de Importação -cogita-se de 20% para 55%- ou a criação de cotas -a imposição de um limite na quantidade de garrafas importadas- sejam concretizadas.


No Rio, a chef Roberta Sudbrack retirou do cardápio os rótulos brasileiros de vinícolas ligadas à petição. É um gesto simbólico, diz ela, e uma maneira de se posicionar sobre um assunto que "pode colocar em risco o crescimento da gastronomia e do país".


O restaurante Tasca da Esquina e a loja de bebidas Rei dos Whisky's & Vinhos -das maiores redes varejistas-estão dispostos a fazer o mesmo.


Thiago Locatelli, sommelier do Varanda Grill, diz que a salvaguarda é "um tiro no pé", que os "consumidores estão revoltados" e que o "mercado brasileiro será inundado por vinhos argentinos e chilenos".


Juntos, os dois países detêm 60% do mercado de vinhos importados no Brasil.


Na Argentina, José Zuccardi, o "rei do malbec" e diretor da Familia Zuccardi, uma das principais vinícolas daquele país, diz que o baixo consumo per capita no Brasil -dois litros por habitante, por ano- é um dos entraves.


"Isso vai contra o desenvolvimento dos próprios vinhos brasileiros", afirma Zuccardi.


Ele, que com a alíquota zero do Mercosul pode se beneficiar com as medidas de salvaguarda, acredita que o vinho importado pode estimular o "crescimento de um grande mercado para os vinhos brasileiros".


Enólogos afirmam que, com a abertura da década de 1990, os consumidores passaram a provar bebidas europeias de maior qualidade e, com isso, os viticultores gaúchos viram-se obrigados a profissionalizar a produção.


Diz o português Antonio Soares Franco, produtor dos vinhos Periquita: "Foram os importados que promoveram a qualidade do vinho brasileiro. É uma guerra em que ninguém sai ganhando."



CERVEJA

Para Ciro Lilla, dono da importadora Mistral e vice-presidente da Associação Brasileira de Bebidas, o mais provável é que "todo mundo beba mais cerveja, o principal concorrente do vinho".


"É absurdo. Salvaguarda é para proteger ramos que estão em perigo de extinção e, segundo o próprio Ibravin [Instituto Brasileiro do Vinho, que encabeça a ação], o mercado cresceu 7% no último ano, mais que a economia."


Rogério D'Avila, dono da importadora Ravin, diz que o "pequeno produtor brasileiro também é massacrado".


Eduardo Angheben, da vinícola que leva o seu nome, diz que a salvaguarda é "antipática" e pleiteada por um grupo de companhias que concentram essa indústria.


Famosa pelos espumantes, mas também produtora de vinhos tintos, a Salton, antes signatária do pedido de salvaguarda, voltou atrás - não apoia mais a medida por considerar que "restringe o livre arbítrio dos consumidores".


Carina Cooper, sommelière da marca, diz que "os vinhos no mundo não são iguais, cada um tem uma história, uma uva, um estilo".



Colaborou FELIPE BÄCHTOLD, de Porto Alegre

Fonte: Folha.com.br (28.03.12)

 


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