Pedido de proteção do setor vinícola, concentrado no Estado, traz de volta dificuldade de integração do gaúcho ao cenário nacional
Território com vasto histórico de posições opostas ao resto do país, o Rio Grande do Sul é agora centro de uma polêmica que envolve a reivindicação de salvaguardas para proteger o vinho nacional – essencialmente gaúcho – ante a enxurrada de importados. A reação de chefs e restaurantes do centro do país foi retirar de suas cartas rótulos de vinícolas que apoiam a medida.
A decisão ampliou a controvérsia e, conforme economistas e historiadores, ainda é fruto da dificuldade de o Estado ser entendido como parte do Brasil. Para o professor de economia brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Pedro Fonseca, o episódio não pode ser comparado ao conflito do charque no século 19. Na época, a questão era a maior produtividade da região do Prata ante o Rio Grande do Sul. Agora, o nó principal é o câmbio, problema que afeta diferentes setores no país.
– É um problema brasileiro que se tornou gaúcho porque o Rio Grande do Sul é praticamente o único Estado que produz vinhos – avalia o historiador Sérgio da Costa Franco.
O também historiador Moacyr Flores lembra que a imagem de um Estado sempre às turras com o Brasil vem do século 19, quando os rio-grandenses lutavam por maior autonomia para fazer leis e para que os impostos ficassem na província.
– Todo país impõe restrições a importações de produtos que tenham similares nacional. Não sou contra importados, mas existem alguns que são uma droga.
A localização do Rio Grande Sul, entende o geógrafo e economista Eurípedes Falcão Vieira, também explica os conflitos. Por ter uma base de produção mais parecida com o Prata do que com o Brasil tropical, o Estado tem interesses conflitantes, mas precisa se submeter à política nacional de comércio.
Durante a semana, uma missão do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) passou por Rio e São Paulo para verificar o alcance do boicote e esclarecer as medidas pleiteadas pelo setor. Prova da repercussão do assunto foi a reportagem publicada no caderno Comida do jornal Folha de S. Paulo quarta-feira passada.
– Há muita desinformação e manipulação por parte dos importadores – diz o gerente de marketing da entidade, Diego Bertolini.
CAIO CIGANA
Fonte: Zero Hora (30.03.12)