A substituição das sacolas plásticas por embalagens retornáveis no Rio Grande do Sul deve ser encarada por cautela pelas empresas do setor. Esse foi o argumento defendido pela Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) durante o II Fórum Agas das Sacolas Plásticas: Problema ou solução?, promovido ontem em Porto Alegre.
O debate sobre o tema ganhou força em todo o País desde o dia 4 de abril, quando os supermercados de São Paulo encerraram a distribuição das sacolas plásticas aos consumidores. A medida já vinha sendo implantada por diversas lojas naquele estado. A experiência paulista é considerada positiva por Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Ele lembra que a entidade assinou, em 2011, um compromisso de reduzir em 30% até o final de 2013 o consumo de sacolas plásticas no País. “Nesse processo o Rio Grande do Sul tem sido mais pragmático, cauteloso, mas o Brasil deve seguir a tendência mundial de uso de embalagens reutilizáveis.”
No entanto, o presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, acredita que a medida pode se revelar prematura, devido à falta de alternativas que sejam práticas, recicláveis, economicamente viáveis e menos prejudiciais ao meio ambiente do que os sacos plásticos tradicionais, que geralmente são usados como embalagem para lixo caseiro. “As pessoas não param de gerar lixo, então onde ele vai parar? Se apenas eliminar a sacola do mercado estaremos trocando somente a cor do saco de lixo, de branco para azul ou preto.”
Outro ponto destacado por Longo é a oposição dos consumidores à mudança. “Temos uma pesquisa que aponta que 81% dos clientes são contra eliminação da sacola.” Segundo ele, 5% dos consumidores já estão trazendoas embalagens de casa. “Mas 80% da decisão de compra acontece no ponto de venda, então determinar quantas sacolas e de qual tamanho será preciso é difícil.”
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), Alfredo Schmidt, também critica a medida adotada em São Paulo, afirmando que ela resulta em perdas econômicas para os clientes. “Os supermercados paulistas vão deixar de tirar do bolso deles R$ 220 milhões por ano comprando sacolas que os consumidores terão que pagar, pois eles ainda precisam comprar sacos para lixo”, apontou. Segundo Schmidt, a proibição também já afeta a indústria plástica, uma vez que gerou uma queda de mais de 40% nos pedidos de sacolas naquele estado.
Outras alternativas, como o uso de materiais degradáveis, ainda são economicamente inviáveis segundo os supermercadistas. “Uma sacola média custa cerca de R$ 0,05. Com esse valor, representam em torno de 0,3% dos despesas totais de uma loja. As degradáveis têm valores entre R$ 0,30 e R$ 0,60, o que não incentiva seu uso”, destaca o empresário Arlei Karpinski. Proprietário de dois supermercados no município de Getúlio Vargas, no Norte do Estado, Karpinski aponta que o maior problema das sacolas para os mercados é o seu consumo excessivo.
“Num município de 16 mil habitantes, onde não atingimos toda a população, distribuímos anualmente mais de um milhão de sacolas”, comenta. Ele aponta que suas lojas estão oferecendo alternativas, como caixas de papelão e sacolas reutilizáveis, mas que é necessário maior conscientização dos consumidores e melhorias no empacotamento. “Muitas embalagens são usadas com apenas metade da capacidade. Não se dá valor àquilo que é dado de graça.”
Uma das redes que incentiva os consumidores a reduzirem o consumo de sacolas é o Walmart, que adota, desde 2008, um programa de descontos, onde o cliente que não usa embalagens plásticas recebe um abatimento de R$ 0,03 a cada cinco produtos comprados. Segundo Felipe Zacari Antunes, gerente de sustentabilidade do Walmart Brasil, o programa já reduziu a distribuição de sacolas em 67 milhões de unidades, gerando R$ 2 milhões em descontos. No Estado são R$ 528 mil em descontos e 17,6 milhões de sacolas a menos.
Fonte: Jornal do Comércio (12.04.12)