Victor Bicca, presidente do Cempre: "O alumínio é o melhor exemplo de logística reversa e serve de inspiração"
Poucas ações de reciclagem são tão bem sucedidas no Brasil quanto a desenvolvida para as latas de alumínio que acondicionam bebidas: das quase 17 milhões de unidades produzidas em 2010, 97,6% foram recicladas. Isso significa que das 245 mil toneladas de alumínio utilizadas na produção das latas, 239 mil voltaram à cadeia produtiva.
Trata-se de um índice muito maior do que o observado nos elos da cadeia anteriores ao consumo: o de recuperação da sucata no processo industrial do alumínio é de 38%. A média mundial é de 27%.
A operação é tão azeitada que o país está há dez anos consecutivos no topo dos que mais reciclam esse tipo de embalagem no mundo, com índices superiores a 90%. "O alumínio é o melhor exemplo de logística reversa e serve de inspiração para outras cadeias", diz Victor Bicca, presidente do Compromisso Empresarial com a Reciclagem (Cempre).
Formado por empresas privadas de diversos setores, o Cempre coordena o grupo conhecido como Coalizão, constituído por 22 associações de fabricantes de diferentes produtos e materiais de embalagens para discutir com o Grupo de Trabalho Temático Embalagens Gerais do Ministério do Meio Ambiente a elaboração do acordo setorial da área de embalagens.
Etapa prevista na Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil, e proíbe a utilização dos lixões para descarte de resíduos a partir de 2014, a elaboração do acordo trata a cadeia de reciclagem de alumínio como referência para produtores de resíduos sólidos urbanos secos.
"Trata-se de uma logística que valoriza o resíduo, ao incorporar a parcela reciclada na produção da liga nova de alumínio, que compartilha responsabilidades entre os elos da cadeia e utiliza mão de obra de cooperativas", diz Bicca. Para Hênio De Nicola, que acompanhou cada discussão sobre o tema na Abal, trata-se de uma cadeia estruturada desde os anos 80 e muito bem sucedida.
Segundo dados de 2010 da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), 76% do total de latas de alumínio coletadas chegam à indústria via pequenos e grandes intermediários (sucateiros), boa parte deles informais. Ao estimular o aumento das cooperativas, responsáveis por 7% do volume coletado, a coalizão espera aumentar a concorrência com os sucateiros "Eles serão obrigados a se formalizar", observa De Nicola. Para Renault de Castro, diretor da Abralatas, é possível manter o modelo atual e aproveitar a PNRS para estruturar a atividade dos catadores, que somam cerca de 700 mil pessoas.
Por Marlene Jaggi | Para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico (23.04.12)