Governo está disposto a declarar empreiteira inidônea, o que esvaziaria atrativo comercial da construtora
A venda da construtora Delta para a J&F, holding do grupo JBS, está prevista para ser anunciada hoje.
Apesar da negociação avançada, a Folha apurou que governo federal está disposto a declarar a empreiteira Delta inidônea, o que esvaziaria ainda mais o atrativo comercial da construtora.
Um ex-diretor da Delta na região Centro-Oeste é apontado por investigações da Polícia Federal como participante do esquema do empresário Carlos Cachoeira.
A PF também indica que dinheiro da construtora foi colocado em empresas fantasmas de Cachoeira. A empreiteira nega envolvimento.
Segundo pessoas envolvidas na negociação, já está montada a arquitetura da venda da construtora. O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é um dos cotados para assumir o conselho de administração da empresa.
O governo, porém, não vê a operação de venda com bons olhos. Avalia que o JBS não tem expertise na área de construção e preferiria uma empreiteira no comando.
Pelo acerto, o valor total da operação só será fixado depois que os compradores entrarem na empreiteira para avaliar o patrimônio.
Há duas semanas, o governo iniciou um processo administrativo que pode fazer com que a empresa fique até cinco anos sem realizar contratos com órgãos federais.
A declaração de inidoneidade ameaça um ativo de R$ 1,1 bilhão que a Delta tem a receber somente nos contratos com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), principal contratador da Delta.
São 99 contratos ainda ativos no órgão. Na prática, a maior parte desses negócios pode ser rompida antes do fim caso o governo considera a construtora inidônea.
A avaliação no mercado é a de que, além do risco do rompimento, esses contratos estariam "micados" devido à estratégia da empresa de ofertar, nas licitações, preço muito abaixo dos concorrentes.
A construtora já deixou o consórcio responsável pelo projeto da Transcarioca (corredor expresso de ônibus) e o da reforma do Maracanã.
As dificuldades de obter crédito junto a bancos para se financiar também foram decisivas para a venda.
Sócio majoritário da Delta, Fernando Cavendish admitiu em entrevista à Folha em abril o risco de a empresa ir à falência após a deflagração da Monte Carlo, que levou Carlos Cachoeira à prisão.
CATIA SEABRA
NATUZA NERY
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA
Fonte: Folha.com.br (09.05.12)