Depois da péssima reação do mercado ao lançamento do plano estratégico da Petrobras, o governo federal agora admite a possibilidade de reajustar o preço da gasolina e do óleo diesel. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que havia descartado na semana passada uma correção no preço dos combustíveis este ano, mudou o tom do discurso ontem e afirmou que o reajuste está em estudo.
"Isso é um assunto que vem sendo discutido a cada momento [...]. Vem sendo examinado com todo o cuidado e toda a prudência, porque não desejamos complicar o problema da inflação", disse o ministro.
Na sexta-feira, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, foi enfática ao admitir a necessidade de um reajuste dos combustíveis. A gasolina e o diesel respondem por 66% da arrecadação da companhia estatal com a venda de todos os combustíveis que produz.
Segundo Graça, mesmo com a queda do preço do petróleo brent, a defasagem continua muito próxima à que existia antes, quando o barril custava cerca de US$ 125 e o dólar valia entre R$ 1,65 e R$ 1,70. Mas os preços do petróleo vêm caindo e, na média de junho, a cotação do brent está em US$ 97,81, para um câmbio de R$ 2,0441 no período.
Analistas esperam que o reajuste saia ainda esta semana, antes de a presidente da Petrobras iniciar um "road show" internacional para apresentação do plano. A avaliação quase unânime é que a estatal precisa de um aumento dos combustíveis para sustentar seus investimentos.
"No momento em que a nova gestão busca estabelecer a sua credibilidade, um plano de negócios robusto, junto com um aumento de preços, melhoraria muito a percepção. Do jeito que está, o plano de negócios, sozinho, deixa uma mensagem truncada, onde o 'management' queria reduzir e melhorar o investimento e o 'board' aparentemente puxou por um aumento, prevalecendo o desejo do controlador", disse Emerson Leite, analista do Credit Suisse.
A Petrobras apresentou um plano de US$ 236,5 bilhões, mas trabalha com um cenário de execução de apenas US$ 208,7 bilhões. Agora existem expectativas de alteração nos valores da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), já que o atual decreto, que estabelece valor de R$ 0,09 para a gasolina e R$ 0,047 para o diesel, perde a validade no dia 1º de julho.
O Itaú BBA estima um reajuste de 8% no preço da gasolina e de 4% para o óleo diesel a partir dessa data. Na prática, a redução da alíquota do imposto permitirá à Petrobras receber o reajuste, sem repassá-lo ao consumidor. Mas "zerar" a Cide significaria uma renúncia de 29% da arrecadação por parte dos Estados. O Credit Suisse acha que, mesmo que toda a Cide fosse usada para ajudar a Petrobras, isso não seria suficiente.
Ontem, as ações ON da Petrobras fecharam com alta de 4,82%, enquanto as PN subiram 3,97%. Apesar de terem recuperado as perdas da semana passada, os papéis ainda acumulam queda de 9,03% (ON) e 6,29% (PN) no ano.
Por Cláudia Schüffner e Rodrigo Polito | Do Rio
Fonte: Valor Econômico (20.06.12)