As "startups" de tecnologia que mais atraem recursos de fundos de investimentos - principalmente aqueles vindos do Vale do Silício, na Califórnia - atuam nas áreas de comércio eletrônico, serviços on-line e aplicativos para dispositivos móveis. Esses segmentos são favorecidos pela expansão no número de internautas, pela rápida adoção de dispositivos móveis e pelo incremento no número de usuários dispostos a realizar compras pela internet.
O número de consumidores com acesso à web cresceu 11% em 12 meses até maio, para 82,4 milhões de usuários, de acordo com o Ibope NetRatings. O acesso à banda larga - que favorece o consumo de vídeo e outros serviços - aumentou 74% em 12 meses até maio, para 75 milhões de assinantes, segundo a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil). E o país ainda tem potencial de expansão de dois dígitos dos acessos à internet nos próximos anos.
Entre os segmentos da internet, o comércio eletrônico é um dos que mais crescem, com uma taxa média anual de 40% em dez anos. É também uma das áreas que apresenta um modelo de negócios testado e gera receita no curto prazo. A consultoria e-bit estima para o país expansão de 25% no comércio eletrônico, para R$ 23,4 bilhões. Esse valor equivale a 2% do varejo no país. Em mercados maduros, como os Estados Unidos, o índice é 5%. Esse seria um sinal de que o segmento ainda tem um grande potencial de crescimento.
Outro fator que os fundos avaliam é o potencial consumo on-line. Dos 82,4 milhões de internautas, 43 milhões fazem compras por internet. A Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) estima que esse mercado dobrará de tamanho até 2020.
Romero Rodrigues, executivo-chefe do BuscaPé e investidor-anjo, observa que os fundos de investimento especializados em tecnologia fazem aportes com base no potencial de negócios das companhias. Sob esse aspecto, o cenário microeconômico de longo prazo tem mais peso no processo de decisão que o macroeconômico. "Os fundos trabalham com um cenário de sete a dez anos. O cenário macroeconômico é considerado, mas não é o mais importante", diz Rodrigues.
Hernan Kazah, sócio da Kaszek Ventures, afirma que os indicadores macroeconômicos têm peso maior na avaliação de companhias que operam em economias maduras, porque o potencial de expansão do negócio fica diretamente ligado ao crescimento vegetativo da população.
Kazah diz que grupos como RedPoint Ventures, Flybridge Capital Partners, Accel Partners, Atomico e Sequoia Capital desembarcaram no país com recursos captados e prazos para investir em operações de risco. Enquanto as economias maduras não se recuperam, países emergentes como o Brasil tornam-se mais atraentes. "O interesse do investidor não mudou, a despeito da economia mais fraca", afirma Jon Karlen, sócio do Flybridge Capital Partners. "O Brasil continua extremamente interessante para se investir, comparado aos demais países."
Embora tenham como foco empresas nascentes de tecnologia, os fundos de investimento internacionais investem pouco em negócios totalmente inovadores. Até o momento, esses grupos investiram principalmente em companhias brasileiras que geram receita, ou que atuam em um segmento que já é lucrativo nos Estados Unidos. Por essa razão, áreas como comércio eletrônico e aplicativos atraem mais recursos que redes sociais, por exemplo.(CB)
Fonte: Valor Econômico (24.07.12)