A necessidade das empresas de encontrarem uma destinação final ambientalmente sustentável para os resíduos de seus processos industriais tem impulsionado o surgimento de novos empreendimentos, como comprovaram os visitantes da Eco Business 2012, feira ocorrida em São Paulo, entre os dias 14 e 16 de agosto.
A Wise Waste, por exemplo, foi criada em outubro de 2011 pelos sócios Guilherme Brammer e Francisco Sousa, com o objetivo de desenvolver estratégias de logística reversa, ou seja, a coleta e reaproveitamento de produtos descartados após seu consumo. Recentemente, a novata conquistou seus dois primeiros clientes, a Pepsico e a Procter & Gamble.
Para a Pepsico, a Wise Waste, desenvolveu um sistema de coleta das embalagens dos salgadinhos Elma Chips. Depois, eles são transformados em pallets plásticos utilizados pela própria Pepsico para o transporte dos produtos. Em dois meses de contrato, Brammer relata que foram recolhidas 45 mil embalagens, evitando que 136 toneladas seguissem para lixões e aterros. O material foi transformado em oito mil pallets plásticos a um custo unitário de R$ 95,00. Até então, a Pepsico utilizava pallets de madeira, que custam R$ 20,00, mas são descartáveis. Os plásticos têm vida útil de até três anos.
Para a P&G, a Wise Waste desenvolve um sistema para transformar embalagens de xampus e detergentes em displays. Os primeiros devem expor produtos da própria P&G nos supermercados a partir de setembro. Com os dois clientes, a Wise Waste já faturou R$ 2 milhões. Brammer avalia que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que determina a adoção pelas empresas de práticas de logística reversa até 2014, irá incrementar seus negócios. "Nossa expectativa é faturar R$ 15 milhões por ano em 2014", diz.
As oportunidades de negócios decorrentes da PNRS também incentivaram Renato Soares de Paula, dono da RS de Paula, especializada na produção de cartões de PVC para bancos, seguradoras, planos de saúde e redes de varejo, a lançar um sistema de logística reversa para cartões plásticos. A ideia é instalar pequenas máquinas, movidas a manivela pelo próprio consumidor, que cortam os cartões em pontos estratégicos, inutilizando chips e tarjas magnéticas. O material coletado é transformado em placas de PVC e reutilizado na confecção de novos cartões, ou em crachás, capas de caderno, placas de sinalização ou brindes.
As três primeiras máquinas estão instaladas desde maio em estações do Metrô de São Paulo, tendo sido coletados oito mil cartões até o início de agosto. Marcelo Martino, gerente comercial da RS de Paula, relata que, no momento, a empresa busca estabelecer parcerias com bancos, seguradoras e empresas de cartão de crédito.
Victor Bartholomeu, sócio-diretor da mineira Ecoplasma também está à busca de seu primeiro cliente. A companhia foi criada a partir do desenvolvimento de uma nova tecnologia para o tratamento de efluentes e resíduos sólidos de indústrias, agronegócios e aterros. O método prevê o uso de um reator a plasma que ioniza o material e promove a degradação da matéria orgânica e mineral.
Segundo Bartholomeu, o sistema está em testes em três potenciais clientes. Um aterro sanitário que pretende eliminar o chorume, uma usina de cana-de-açúcar, para tratar o vinhoto, e uma indústria química, que pretende recuperar para reúso o níquel e o óleo descartado em seu processo produtivo. "Esperamos fechar os contratos e faturar o primeiro R$ 1 milhão no próximo ano", diz.
A Nova Terra vende composteiras caseiras, e aposta em um sistema de decomposição com base em microorganismos. A expectativa é fechar em breve um contrato com uma refinaria de petróleo.
Por Domingos Zaparolli | Para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico (21.08.12)