O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Aldo Luiz Mendes, defendeu a continuidade do movimento de abertura do mercado de cartões começado em 2010, "com o fim das exclusividades que ainda existem". Ele citou especificamente o setor de vale-alimentação e refeição (chamado de voucher).
Em 2010, o governo pressionou o mercado de cartões, que quebrou a exclusividade de captura entre as bandeiras Visa e MasterCard e as credenciadoras Cielo e Redecard, respectivamente, por meio de autorregulação. Ficaram de fora desse movimento, porém, as empresas de voucher e algumas bandeiras como Hipercard (exclusiva da Redecard, Elo e American Express (ambas da Cielo).
"Esperamos que o movimento iniciado em 2010 se complete, com o fim das exclusividades contratuais que ainda existem no sistema e com a continuidade de novos entrantes no mercado", disse no 7º Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento (CMEP).
Mendes também defendeu maior redução nos custos de credenciamento cobrados das empresas varejistas. O BC observou um aumento na taxa de aluguel das leitoras de cartões, conhecidas como POS no início deste ano.
O valor, que havia recuado 17% em 2011, para R$ 52, em média, logo após o fim da exclusividade, voltou a subir no primeiro semestre deste ano, para R$ 64, acima do valor anterior (R$ 61).
A defesa do setor é que a recomposição das receitas de aluguel vem da modernização dos aparelhos em si, como as maquininhas sem fio. Mas Mendes acredita que o uso dos cartões hoje é mais intensivo, com maior receita por unidades, o que poderia levar a queda dos custos.
O diretor do BC ponderou ainda que houve queda nas taxas de desconto cobradas por transação dos lojistas. No caso dos cartões de crédito, a taxa média saiu de 3,03%, no primeiro trimestre de 2010, para 2,97% em junho de 2012. No caso do débito, recuou de 1,79% para 1,75% no mesmo período. Os dados divulgados ontem pelo BC estão em levantamentos estatísticos do setor, divulgados anualmente e que devem ser publicados até o fim desta semana no site do BC.
Com relação à discussão do parcelado sem juros, apesar de reconhecer exageros no uso do instrumento, a modalidade não vai se extinguir no mercado brasileiro, segundo Fernando Teles, diretor de cartões do Itaú Unibanco, que lançou recentemente um novo modelo de cartão em que quando há atraso no pagamento da fatura, os juros, mais baixos, retroagem ao dia da compra. Entre os exageros, estariam tíquetes de venda muito baixos e exagero nas parcelas.
Cassius Schymura, diretor de meios de pagamento do Santander, também acredita que haverá um equilíbrio entre o crescimento do parcelado com e sem juros nos próximos anos, com as modalidades com juros aumentando o ritmo de crescimento.
O apetite para novos cortes nas taxas de juros do cartão, por sua vez, vai depender dos segmentos em que cada banco quiser atuar daqui para frente. "Uma queda nos juros afeta o ponto de corte do banco. O cartão deixa de chegar a um público", afirmou Claudio Yamaguti, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs). "Acho que o governo está sensível a esse equilíbrio."
Por Felipe Marques e Fernando Travaglini | De São Paulo
Fonte: Valor Econômico (18.10.12)