Apesar do esforço da presidente da Petrobras, Graça Foster, para aumentar a eficiência operacional, o resultado do terceiro trimestre (lucro de R$ 5,567 bilhões, abaixo da expectativa do mercado), mostra que a estatal ainda enfrenta desequilíbrio. E novo reajuste de combustível deve ocorrer até o fim do ano.
As razões da queda acentuada da produção e os aumentos das despesas da Petrobras ainda são foco das preocupações de especialistas e, agora, a expectativa é de um novo aumento de preços dos combustíveis. Como resumiu a analista Paula Kovarsky em relatório para clientes do Itaú BBA, é esperado um fraco desempenho operacional que influencie as ações da Petrobras. Passadas as eleições, a analista acredita em um potencial aumento nos preços dos combustíveis que pode acontecer a partir desta semana.
Analistas do banco Credit Suisse afirmam que "não há muito para gostar ou dizer" sobre o balanço, avaliando que ainda vai demorar para os gestores da Petrobras corrigirem o curso da empresa e que "os investidores estão pagando caro por isso".
Os efeitos positivos dos aumentos de preço da gasolina e do diesel foram praticamente anulados pelo incremento dos custos de refino e de extração de petróleo, entre outros, tudo isso associado a uma queda acentuada da produção de 4% em setembro - foram produzidos apenas 1,844 milhão de barris por dia, o pior resultado desde 2008 - e de 3% no trimestre.
Com menos petróleo produzido, o custo de extração do óleo, antes do pagamento dos royalties e da Participação Especial, subiu 15% em dólares, de US$ 13,40 por barril no segundo trimestre para US$ 15,42, no terceiro. Apesar de explicado por manutenções em alguns campos gigantes da Bacia de Campos previstas no programa de aumento da eficiência operacional (Proef), essa alta foi ajudada pelo aumento salarial.
No terceiro trimestre, a receita de vendas foi de R$ 73,79 bilhões, mas com os preços dos combustíveis defasados, a estatal tem perdas com o crescimento das vendas, contrassenso provocado pelo governo ao evitar reajustes.
O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, lembrou que a companhia prevê aumento de 15% no diesel e na gasolina em 2012 para bancar os investimentos previstos de US$ 208,7 bilhões a US$ 236,5 bilhões. E os aumentos de junho e julho, de 10% no diesel e 8% gasolina estão abaixo disso. "O nosso Plano de Negócios previa reajustes maiores do que ocorreram até agora para este ano, portanto, ainda existe espaço para uma expectativa [de aumento] no período".
Não por acaso, a área de Abastecimento registrou mais uma vez resultado negativo, de R$ 5,652 bilhões no terceiro trimestre. O prejuízo é de R$ 17,28 bilhões no acumulado do ano até setembro. As perdas só diminuirão, segundo analistas, quando o governo acabar com o subsídio. O diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, explicou que parte da alta de custos do refino foi causada pela entrada de unidades mais modernas nas refinarias Repar (PR) e Revap (SP).
Outros custos até setembro chamam a atenção, entre eles a despesa de R$ 875 milhões do acordo coletivo de trabalho (ante os R$ 596 milhões do ano passado) e os gastos de R$ 1,012 bilhão com publicidade e propaganda, patrocínios culturais, esportivos, ambientais e sociais e despesas administrativas. O valor está próximo ao R$ 1,178 bilhão gasto com paradas não programadas de plataformas e gastos pré-operacionais.
O Credit Suisse considera o aumento de preços da gasolina e diesel e uma taxa de utilização de 98% da capacidade de refino da Petrobras como os únicos pontos positivos no balanço da companhia. Mas, segundo a instituição, não foram suficientes para alavancar o balanço do trimestre, repleto de dados negativos. Em relatório intitulado "A soma de todos os medos", os analistas Emerson Leite e Andre Sobreira citam uma longa lista de desapontamentos, incluindo queda da produção e taxa de declínio natural dos reservatórios de 11%.
Por Cláudia Schüffner e Marta Nogueira | Do Rio
Fonte: Valor Econômico (30.10.12)