Supermercados de Londrina iniciam trabalho de conscientização; intenção é que, até 2020, consumo diário chegue a 5 gramas por pessoa
"Menos sal, mais saúde", "Evite adicionar sal", "Alimentos frescos sempre têm menos sal". Essas são algumas das frases que os consumidores londrinenses têm encontrado nas gôndolas de grande parte dos supermercados da cidade, desde o início da semana passada. Promovida pela Associação Paranaense de Supermercados (Apras), a campanha tem como objetivo alertar para os perigos do consumo excessivo de sódio à saúde, por meio de banners, distribuição de folhetos e veiculação de spots publicitários em emissoras de rádio e nos próprios alto-falantes dos supermercados.
De acordo com o diretor comercial da Apras, Walde Renato Prochmann, a campanha surgiu de um acordo entre Anvisa, Ministério da Saúde e Associação Brasileira de Supermercados (Abras). "Como entidade, mais do que nunca, é nosso papel sinalizar para a população o mal que o sal faz. Cinco milhões de consumidores em todo o País serão alertados." Sem saber informar quantas unidades receberam os materiais da Apras, Prochmann diz acreditar que a maioria dos supermercados aderiu à campanha. "Em cada cidade, temos uma loja piloto, onde ocorreu o início da divulgação e, depois, a distribuição foi feita para outras lojas. Em Londrina, essa loja foi o Musamar."
Consumidores estão aderindo
A advogada Vânia Maria Scudeler Angeli e a engenheira agrônoma Maria Amélia de Souza Fustinoni avaliam a campanha dos supermercados como "excelente" e garantem que estão sempre de olho nas embalagens dos alimentos, para evitar levar sódio em excesso para casa. "Eu acho que a redução de sal deveria ser agilizada, porque o prazo é muito grande. Nesse caso, menos é mais", defende Vânia. "Tem que ler embalagem, porque todo cuidado é pouco. Lá em casa, não comemos mais esses salgadinhos, batatinhas, pela qualidade de vida mesmo", completa Maria Amélia.
Mãe de duas crianças, de 4 e 8 anos, a secretária Fátima Andrade também garante ser "bem rigorosa com o sal". Na impossibilidade de conferir todas as embalagens nas gôndolas, ela conta que checa, principalmente, o nível de sódio nas bolachas e nas bebidas lácteas que os filhos levam para a escola. "Também fico brava com a minha funcionária quando sinto que ela dá uma puxada no sal."Além de "cortar bastante" o sal na preparação dos alimentos, a dona de casa Lourdes Golono Kaminagakura afirma que dá preferência a alimentos naturais, como verduras. "Acabei de ver o peito de peru ali, que dizem que é saudável, e tem uma quantidade de sal que só por Deus." A advogada Isabela Silva garante que na casa dela o sal é inimigo. "Todo mundo faz dieta, os mais velhos pela saúde, e os mais novos por causa de peso. E o sal retém líquido. Na carne mesmo, é zero sal", diz, enquanto escolhe caldo de carne, produto com alto teor de sódio. E tenta justificar: "Esse aqui é para o fim de semana".
O gerente do Supermercado Musamar da Rua Pernambuco, Marcos da Silva Venturini, explica que, paralelamente à campanha para a diminuição do sal, os supermercados estão incentivando o consumo de alimentos mais frescos. Com cartazes espalhados por toda a unidade, ele espera que os clientes fiquem mais atentos na hora de escolher produtos como macarrão instantâneo, biscoitos e conservas, os "vilões" do sódio. "Ainda é cedo para ver retorno. Nossos clientes são pessoas mais idosas e já têm o hábito de ler rótulos e consumir menos sal."
Já no Supermercado Viscardi, da Rua Quintino Bocaiuva, os banners sobre consumo consciente de sal foram colocados em pontos estratégicos, como padaria, rotisseria e açougue, além de gôndolas de temperos e sopas prontas, produtos com grande porcentual de sódio na composição. "A campanha começou semana passada, então, se houve mudança no comportamento do consumidor, foi mínima. Pode ser que daqui um mês tenha uma resposta melhor", defende o subgerente da loja, Eliandro Aparecido Antunes.
Indústria também se envolve
Em abril do ano passado, o Ministério da Saúde firmou termo de compromisso com as indústrias de alimentos processados, para a redução gradual da quantidade de sódio em 16 categorias de alimentos, começando por macarrão instantâneo e pães. O objetivo é diminuir, até 2020, o consumo dos atuais 9,6 gramas diárias do produto para os desejáveis 5 gramas, recomendados pela Organização Mundial da Saúde. As primeiras metas devem ser cumpridas pelo setor produtivo até o fim deste ano e aprofundadas até 2014. As indústrias de pães, por exemplo, precisaram diminuir a quantidade de sal em 10%, enquanto os produtores de macarrão instantâneo cortaram 30% do sal, em um ano.
No Moinho Globo, de Sertanópolis, que fornece mistura pronta para pão francês a panificadoras de diversos Estados, os testes para a redução de 10% a 15% do sal começaram em abril. A nutricionista Sara Rosa Lino, encarregada do controle de qualidade da indústria, explica que a tarefa é complicada, uma vez que, além de conservar o produto, o sal controla a fermentação e mantém a consistência da massa. "Estou só aguardando os testes laboratoriais e, se a redução de sal for confirmada, vamos colocar na produção no final de dezembro, ou no máximo, na primeira quinzena de janeiro." De acordo com Sara, os próximos testes serão feitos nas misturas de bolo. "Mas ainda teremos que reduzir mais no pão. Tem que chegar a 304 miligramas de sal para 50 gramas de pão."
Ervas podem substituir sódio
Embora seja importante para a saúde, muita dona de casa - talvez pensando na velha expressão "sem sal" como definição para algo "sem graça" - ainda torce o nariz para a redução de sal nos alimentos, com medo de que percam o sabor. De acordo com a nutricionista Lucievelyn Marrone, do Centro de Educação para a Saúde (Ceps), da UniFil, no entanto, não há motivos para preocupação. "Hoje temos uma grande variedade de ervas aromáticas - além dos conhecidos cheiro verde, alho e cebola -, como manjericão, cominho, tomilho, curry e páprica, que substituem o sal, dando sabor e aroma agradável aos alimentos. Utilizamos essas ervas até mesmo na salada crua, para não precisar de sal."
Lucievelyn explica que as doenças cardiovasculares são as que mais matam no Brasil e que o sódio - componente do sal - é mesmo o grande vilão dessa história. Para reduzir a ingestão diária de sódio, outra dica da nutricionista é evitar alimentos industrializados, como lasanhas congeladas, enlatados, salgadinhos e refrigerantes, além dos temperos prontos, que contêm mais de 50% do sódio que uma pessoa pode consumir por dia. "O certo mesmo é não consumir, não ter em casa. Mas já que não dá para fazer isso, essas coisas podem ser consumidas uma vez por semana, ou a cada 15 dias. Mesmo assim, é importante prestar atenção para não concentrar tudo no mesmo dia. Se comi uma pizza no sábado, não vou comer um lanche", ensina.
Bruna Komarchesqui
Fonte: www.jornaldelondrina.com.br (16.11.2012)