Por César Felício | De Buenos Aires
A Argentina passa a viver a partir de hoje e até o dia 1º de abril um experimento de congelamento de preços na economia. Nenhum dos produtos comercializados nas principais redes de supermercado do país, entre elas a francesa Carrefour, a americana Walmart e a chilena Jumbo, poderá ter reajuste nos próximos dois meses. A regra vale até para artigos de luxo e produtos eletrônicos.
O acordo foi feito diretamente pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, e o governo lançou mão de canais diretos de comunicação com os consumidores. Em um telefone 0800 da subsecretaria de Defesa do Consumidor, os atendentes orientam os cidadãos a que guardem e comparem tíquetes de compra. Em caso de diferença, a orientação é ir até a subsecretaria para formalizar uma denúncia contra a rede.
Segundo disse uma atendente do serviço 0800, os preços não poderão ser diferentes dos que estão listados na página da internet www.preciosensusitio.gov.ar, que permite comparações estabelecimento por estabelecimento de cada rede.
"Os níveis de estoque estão bons, não temos nenhum problema de abastecimento e temos o compromisso de tratar separadamente alguns casos de hortaliças ou frutas em que entrem componentes de sazonalidade. No entanto, em um primeiro momento, o congelamento é para tudo", comentou Carlos Mendez, gerente-geral da Associação dos Supermercados Unidos (ASU), que reúne as cadeias que representam cerca de 75% do varejo argentino.
Ficaram fora do acordo os supermercados de bairro, de pequeno e médio porte, em geral controlados por imigrantes chineses e chamados de "superchinos", muito populares em Buenos Aires.
O acordo patrocinado por Moreno é uma primeira tentativa do governo argentino de tentar conter a inflação no país pela formação de preços no varejo. O secretário de Comércio, que costuma agir informalmente, sem colocar suas decisões e acertos no "Diário Oficial", reúne grande poder na Argentina: depende dele cada importação que é feita no país, por exemplo.
A equipe da presidente Cristina Kirchner também procura desacelerar a escalada inflacionária se recusando a homologar aumentos salariais acima de um determinado patamar, mantendo congeladas uma série de tarifas. Ontem mesmo, Cristina decretou "de interesse público" a tarifa de cargas no país, primeiro passo para um controle de preços.
Ao longo dos últimos três anos, Moreno tentou implantar um esquema de administração de preços pelo qual são permitidos três reajustes anuais divididos em três faixas: uma para produtos supérfluos, outro para produtos vinculados a marcas líderes de mercado, e outro para itens que não têm marca comercial. Esses acordos, entretanto, envolviam a indústria de alimentos, e não o varejo.
A inflação é preocupação crescente dos argentinos. Segundo pesquisa de opinião pública divulgada neste fim de semana, elaborada pela agência Management and Fit, o tema já é citado como a segunda maior preocupação, logo após a insegurança.
Fonte: Valor Econômico (05.02.2013)