Os primeiros meses de 2013 registraram inflação em alta e acima da esperada para o período. As apostas do governo de que a elevação da inflação era transitória começaram a se desvanecer nas últimas semanas.
De fato, caso não haja uma reversão concreta do ambiente inflacionário, o limite superior da meta de inflação será rompido mais adiante.
Em razão desse cenário, o governo começou a rever suas prioridades em relação à inflação, recolocando-a no centro das atenções.
Sob essa perspectiva, é reconhecido que a boa prática da política econômica sugere que um aperto monetário é o melhor instrumento para o combate à elevação da inflação.
Em outras palavras, a elevação da meta da taxa Selic por parte do BC seria o instrumento convencional indicado para esse caso.
No entanto, o governo se encontra em uma sinuca: ao mesmo tempo em que a inflação se mostra pressionada, a atividade econômica segue claudicando.
O bom resultado recente da produção industrial brasileira não apaga o fraco desempenho do PIB em 2012. A economia parece estar esboçando alguma recuperação na margem e, nesse sentido, uma elevação da taxa de juros neste momento poderia abortar esse processo.
Em face dessa problemática, o governo brasileiro faz uso de um instrumento pouco ortodoxo para tentar combater a alta da inflação: a desoneração de produtos da cesta básica.
Com isso, tenta evitar a elevação dos juros por parte do Banco Central.
A visão do governo é que essa medida venha a reduzir os preços desses produtos (ou pelo menos estancar a alta) e, com isso, o ritmo da alta de preços se desacelere.
Essa é uma aposta incerta: não é garantido que a desoneração promovida seja repassada integralmente para os preços.
Ela pode ser incorporada em parte ou integralmente pelos produtores caso exista a possibilidade disso.
Vale lembrar também que, mesmo que exista algum benefício do ponto de vista da inflação no curto prazo, ele ocorre uma única vez e, se a dinâmica inflacionária registrada nos últimos meses persistir, o governo poderá se ver no mesmo dilema atual em relação aos juros daqui a alguns meses.
ROGÉRIO MORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
ROGÉRIO MORI é Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP).
Fonte: Folha de São Paulo (12.03.2012)