O ano de 2019 terminou com razoável melhora no mercado de trabalho. O desemprego caiu para 11,9%, a população ocupada aumentou 2%, o emprego formal subiu 1%, a construção civil voltou a empregar e a massa salarial aumentou 2,5%. É claro que muitos problemas persistem. Afinal, são mais de 12 milhões de brasileiros desocupados que, somados aos subutilizados, chegam a 28 milhões. A informalidade atinge mais de 40% da força de trabalho, e o desemprego dos jovens ultrapassa os 25%.
Tanto a recuperação lenta quanto os problemas que persistem são frutos, principalmente, do baixo crescimento econômico. De 2010 a 2019, o PIB cresceu, em média, menos de 1,5% ao ano. É muito pouco para acomodar uma força de trabalho de 106 milhões de pessoas. Para 2020, fala-se em crescimento do PIB de 2% ou 2,5%. Os juros baixos, a inflação controlada e a melhora da massa salarial são apontados como estímulos para os investidores criarem novos negócios e expandirem os atuais.
Será possível virar o jogo no campo do emprego? Acredito que sim, mas nada será automático e muito menos instantâneo. O impacto mais rápido será provocado pela expansão da massa salarial que estimulará o consumo dos chamados “bens de salário”, como alimentos e bebidas, vestuário e calçados e serviços pessoais. Essas atividades ainda utilizam mão de obra tanto no varejo quanto no atacado e na produção dos insumos, assim como na expansão dos serviços.
Ligado a essas atividades está a agricultura e o agronegócio de modo geral. A mecanização das lavouras reduziu o potencial de empregos da agricultura, é verdade, mas ajudou a expandir as oportunidades de trabalho nas redondezas das operações. Nos últimos anos, o PIB das cidades do interior cresceu mais do que o das regiões metropolitanas e o nacional. Com a elevada produtividade do setor agropecuário e a continuar as exportações, tudo indica que esse padrão vai continuar.
Com juros baixos e maior facilidade de financiamento, espera-se a expansão da produção de bens duráveis, em especial imóveis. A retomada do emprego na construção civil deve ser bem mais forte que a ocorrida em 2019, que melhorou em relação a 2018.
E no campo da construção há sempre o sonho de se ativar a infraestrutura. O potencial de geração de emprego desse setor é imenso porque toda obra — saneamento, energia, armazenamento, rodovias e ferrovias, portos e aeroportos — utiliza muitos trabalhadores na construção, na produção dos insumos e depois de acabada. A conclusão de uma rodovia, por exemplo, dinamiza a economia ao longo do seu percurso. Assim ocorre com todas as obras de infraestrutura. Nesse campo, temos um potencial imenso para gerar empregos porque no Brasil tudo está por ser feito.
Com um crescimento econômico da ordem de 2%, o Brasil tem chance de gerar em 2020 cerca de um milhão de empregos formais nos setores acima indicados e até mais se a economia mundial melhorar e o medo do coronavírus se afastar. Mas, é claro, temos de prosseguir com as reformas, melhorar a educação, requalificar profissionais, elevar a produtividade e a competividade das empresas.
Para diminuir o trabalho informal será necessário prosseguir com a redução dos entraves burocráticos no caso dos empregados e a criação de novas formas de proteção previdenciária para quem trabalha por conta própria, em especial na “economia dos aplicativos".
Com tudo isso ocorrendo, ainda assim, podemos chegar ao fim do ano com 11 milhões de desempregados e uns 35% de informalidade. Reduções maiores demorarão dois ou três anos. O importante é ter uma melhoria crescente na quantidade e qualidade de trabalho oferecida pelo Brasil.
José Pastore
*José Pastore é professor da Universidade de São Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
Fonte: Correio Braziliense – 07/02/2020.