Patrícia Comunello
Um pool de quase 20 entidades ligadas a diversos setores da economia em Porto Alegre divulgaram posição em meio à discussão que cresceu nos últimos dias sobre a possibilidade de lockdown. O Prefeito Nelson Marchezan Júnior passou a cogitar a medida diante da pressão por leitos de UTI e risco de colapso na saúde.
As entidades pediram a colaboração da população para atingir isolamento de 55% e indicaram que a prefeitura deve tomar medidas para o retorno breve às atividades.
A nota não chega a citar a possibilidade de lockdown e nem se posicionar sobre o fechamento total, mantendo aberto alguns segmentos essenciais e ainda com controles de fluxos. A forma como seria a medida não chegou a ser abordada pela prefeitura até agora.
"Solicitamos aos cidadãos e demais habitantes de Porto Alegre que colaborem no sentido de respeitarem os níveis de isolamento social instituídos bem como solicitar, ainda, às autoridades constituídas, a melhor e justa adequação dos níveis de isolamento social, dada a importância de superarmos, com brevidade e de forma organizada", destaca a nota.
CDL-POA, Sindilojas, Sinduscon, Sinepe (escolas particulares), Associação dos Empresários do Humaitá e Navegantes (AEHN), Agas, Abrasel, Lide, Abrasce, ACPA, Sindha (bares e restaurantes), CDL-POA, Sergs (Sociedade de Engenharia), Instituto Cultural Floresta, Fenabrave/Sincodiv, ADCE, Aclame, Acomac e Secovi assinam a nota conjunta.
O Presidente da CDL-POA, Irio Piva, esclarece que as entidades não apoiam as medidas já adotadas e muito menos o lockdown. "Apenas afirmamos que vamos cumprir com as determinações e pedimos à população os cuidados. Exatamente para que não haja necessidade de uma paralisação", atenta o dirigente lojista.
No documento, o grupo de instituições reforça que apoia e seguirá implementando os protocolos para a segurança sanitária. Mas ponderam que as restrições que já são adotadas há mais de cem dias geram dificuldades e já comprometem a manutenção dos negócios. "A manutenção de restrições tão severas às atividades produtivas acarreta riscos de consequências desastrosas para a economia, para a preservação e geração de empregos e, por conseguinte, da saúde e da vida", previne o grupo.
Conciliar fatores da saúde e economia se transformou no maior desafio no combate à pandemia. O Presidente do Sindilojas, Paulo Kruse, garante que a questão da vida é primordial e lamenta que muitos moradores não cumpram os decretos municipais. O isolamento social se mantém bem abaixo da meta de 55%. Nesse sábado (18), o indicador ficou em 43%, e na sexta-feira (17) estava abaixo de 40%. "Lockdown é desastroso", reage Kruse.
A Diretora Presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Nadine Clausell, defende o fechamento total para conseguir rapidamente frear a demanda por leitos. Nadine alerta que até o fim de julho a capacidade de internações em leitos de terapia intensiva deve se esgotar e diz que é preciso apoio de setores econômicos e políticos para quem as medidas sejam eficientes.
"É ilusão achar que proteger o setor econômico é a melhor saída. A gente tem de salvar as pessoas para depois resolver o sistema econômico. A sociedade precisa estar abraçada nesta causa e precisamos avançar nisso, mas não temos muito tempo", adverte a médica.
Confira a nota completa das entidades:
Aos cidadãos de Porto Alegre
Diante das medidas restritivas que há mais de 100 dias vigoram na nossa cidade, decretadas em face do combate à Covid-19, as entidades abaixo assinadas, representando setores de extrema importância para a nossa economia, manifestam à sociedade porto-alegrense:
1. Ratificar o nosso compromisso de respeito à ordem pública, seguindo as determinações expressas nos diferentes decretos estaduais e municipais, que buscam, assim esperamos, preservar a saúde e a vida da população de nossa cidade;
2. Continuar a adotar, como temos feito desde o princípio da Pandemia, todos os protocolos sanitários para o funcionamento dos estabelecimentos dos nossos associados. Locais onde, ressaltamos, não há registro de foco de contaminação pelo Coronavírus, até a presente data;
3. Reiterar que, embora fiéis ao compromisso colaborativo, a suspensão das nossas atividades, por um período superior a 100 dias, já representa um grau de sacrifício de recursos que superam a capacidade de sobrevivência das empresas que sofreram restrições à sua atividade. Neste sentido, os segmentos essenciais que mantiveram-se abertos e que assinam a presente carta, solidarizam-se com os demais setores que tiveram sua atuação restringida neste período. Associa-se a isto, o fato de que a manutenção de restrições tão severas às atividades produtivas, também acarreta riscos de consequências desastrosas para a economia, para a preservação e geração de empregos e, por conseguinte, da saúde e da vida.
Por fim, na expectativa de conciliarmos os interesses que são comuns a todos, solicitamos aos cidadãos e demais habitantes de Porto Alegre que colaborem no sentido de respeitarem os níveis de isolamento social instituídos bem como solicitar, ainda, às autoridades constituídas, a melhor e justa adequação dos níveis de isolamento social, dada a importância de superarmos, com brevidade e de forma organizada, o momento grave que atravessamos, colaborando, cada a um a seu modo, para a urgente retomada das nossas atividades.
Fonte: Jornal do Comércio RS, 17/07/2020