O varejo é gringo

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A transferência do controle do Pão de Açúcar para o francês Casino representa a consolidação do processo de internacionalização do comércio brasileiro.

 

Por Arnaldo COMIN

 

“Este é o dia que eu passo o controle do Pão de Açúcar.” Foi assim, em tom emocionado, que o empresário Abilio Diniz encerrou em 22 de junho um dos capítulos mais marcantes da história do varejo brasileiro. Fundada em 1948 pelo português Valentim dos Santos Diniz, a maior rede varejista do País, que faturou R$ 52 bilhões no ano passado, passou a ser comandada pelo franco-argelino Jean-Charles Naouri, dono do Casino. Diniz segue na presidência do conselho, mas o império dos supermercados veste definitivamente as cores da França no Brasil. A transição marca um importante fenômeno no varejo, a internacionalização. 

 

 
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Poderoso chefão: Naouri, do Casino, é quem comanda
o grupo Pão de Acúcar.
 


Desde os anos 1990, a estabilização da economia e o crescimento da massa de consumidores vêm atraindo alguns dos principais grupos estrangeiros do setor. Nas contas de Fernando de Castro, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo, que congrega 37 grandes cadeias que operam no País, o varejo representa 14% do PIB brasileiro. Se as previsões de crescimento de 4% se confirmarem, o mercado ultrapassará a barreira de R$ 600 bilhões ainda este ano. “Temos muito ainda para crescer”, diz Castro, ex-presidente da Telhanorte e hoje diretor da Saint-Gobain, controladora da rede de material de construção desde 2000. “Nos países desenvolvidos, o varejo representa mais de 20% da economia.” 

 
Um dos exemplos desse dinamismo é o comércio eletrônico, que já beira os R$ 20 bilhões. Os supermercados são de longe o filão mais internacionalizado. As quatro maiores redes, que detêm 49,2% dos R$ 240 bilhões de receita gerada pelo setor em 2011, estão sob controle estrangeiro, caso do Carrefour, pioneiro no País, onde desembarcou, em 1975, do Walmart, que, após uma entrada discreta em 1995, tornou-se uma potência no Nordeste, com a compra da Bompreço, em 2005, e do chileno Cencosud, além, evidentemente, do Pão de Açúcar, hoje sob o controle do Casino. “A grande novidade é a Cenco­­­sud, que está mostrando mais disposição que os outros para crescer via aquisições”, afirma Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). 


 
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Na onda do real: a gigante americana desembarcou
em 1995, no rastro da estabilização da moeda.


 
O grupo chileno está no Brasil desde 2007 e já é o quarto maior supermercadista, com vendas de R$ 6,2 bilhões. Em pouco tempo, soma quase 200 lojas a partir da compra de redes regionais, como a GBarbosa, Bretas e Prezunic. “O avanço estrangeiro só não foi maior porque muitos grupos globais optaram por jogar suas fichas na Ásia”, diz Honda. Na linha de frente dos estrangeiros também está o varejo de material de construção e decoração, que deverá movimentar R$ 54 bilhões este ano. Das três maiores, duas são francesas: a líder Leroy Merlin e a Saint-Gobain, terceira colocada no ranking. 
 

Espremida entre elas está a C&C, do banqueiro Aloysio Faria, fruto de uma agressiva estratégia de aquisições de redes como Madeirense, Conibra, Uemura e a francesa Castorama. “Quando chegamos ao Brasil, nem existia o conceito de bricolagem”, lembra Alain Rickeboer, presidente da Leroy Merlin. O mercado, contudo, continua extremamente pulverizado. A própria Leroy detém apenas 4% de participação, o que abre espaço para a entrada de novos concorrentes do Exterior. A nova configuração do Pão de Açúcar também mexe no tabuleiro do mercado de eletroeletrônicos e linha branca, o segundo maior do varejo, cujas vendas deverão superar R$ 85 bilhões este ano. 


 
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Honrosa exceção: no segmento de móveis e eletrônicos, redes locais, como a paulista
Magazine Luiza, ainda demonstram ter força para se impor ante as estrangeiras.


 
“Afrancesada”, a Viavarejo, que agrega Ponto Frio, Extra Eletro e Casas Bahia, segue disparada na frente, com faturamento de R$ 24,2 bilhões no ano passado. Mas a disputa das redes regionais, que tradicionalmente comandaram o negócio, se intensificou com a expansão nacional de grupos como o Magazine Luiza, que adquiriu as Lojas Maia, na Paraíba, e obteve vendas de R$ 7,6 bilhões em 2011. Essa tendência foi fortalecida com a criação da Máquina de Vendas. Em apenas dois anos, a companhia, fruto da união da mineira Ricardo Eletro e da baiana Insinuante, tornou-se uma potência comercial que fatura R$ 9 bilhões ao ano, a segunda maior do ramo de eletroeletrônicos no País. Com a compra da gaúcha Salfer, em abril, a Máquina entrou na região Sul e hoje opera com marcas locais em todos os Estados brasileiros. 

 
“Nós vimos que a consolidação era inevitável e nos antecipamos”, diz Luiz Carlos Batista, presidente do conselho de administração da Máquina de Vendas. A maturidade do varejo brasileiro mantém as portas abertas para que novos grupos cheguem ao País – há um grande espaço, por exemplo, no ramo de vestuário, no qual, com exceções como a holandesa C&A e a espanhola Zara, a presença do capital estrangeiro ainda é insignificante. No entanto, o crescimento de alguns grupos nacionais, que adquirem musculatura ao juntarem suas forças, mostra que, em breve, a recíproca pode ser verdadeira. “Não descartamos a entrada em países vizinhos no futuro”, diz Batista, da Máquina de Vendas.

 
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Veículo: Revista Isto É Dinheiro

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