Atacadistas crescem com cliente que foge da inflação

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O comércio atacadista se descolou ainda mais do varejo de supermercados este ano. O setor tem avançado a uma velocidade maior que a de 2012, impulsionado, em parte, por uma demanda crescente de consumidores que tentam fugir da inflação comprando maiores volumes com descontos, dizem as redes. A política agressiva de preços das atacadistas em 2013 - reflexo do aumento da concorrência entre líderes de mercado - atraiu tráfego e também ajudou nesse crescimento. O Assaí, do Grupo Pão de Açúcar, cresceu 40% em maio e o Maxxi Atacado, do Walmart, 30%, apurou o Valor.

Os atacadistas, especialmente o "atacarejo" - lojas que vendem para empresas e também pessoas físicas - já vêm registrando expansão acima da média dos supermercados nos últimos anos. Mas houve uma incremento nessa taxa. Em 2012, as vendas do atacado aumentaram num ritmo quase duas vezes maior que as dos supermercados e hipermercados, segundo dados da associação de supermercados (Abras) e da associação de atacadistas (Abad). Nos quatro primeiros meses deste ano, o ritmo foi quase três vezes superior.

De janeiro a abril, o atacado apurou crescimento real de 4,6% e a expectativa é que esse número alcance 5% no ano, taxa considerada "ótima", pela Abad. Os supermercados e hipermercados tiveram alta real de 1,65% de janeiro a abril. Em 2012, esse intervalo era menor. Enquanto supermercados apuraram expansão real de 0,2%, o atacado cresceu 2,2%. "Acredito que o consumidor está mais cauteloso em relação a gastos e atento a preços e o atacado acaba sendo favorecido nesses cenários", diz Rafael Vasquez, vice-presidente de atacado do Walmart Brasil.

"O consumidor que estava endividado saiu da inadimplência nos últimos meses e, ao voltar às compras pôde buscar no atacado uma forma de economizar num período mais difícil", disse o presidente da Abad, José do Egito Lopes Filho, que ressaltou o fato de o setor não ter feito reajustes de preços consideráveis este ano, apesar da maior pressão em algumas categorias. Ele acredita, porém, que a razão central para o bom momento do mercado ainda é a maior demanda de pequenas lojas de bairro, que se abastecem nos atacadistas.

Dados de uma pesquisa da Kantar Worldpanel, apresentada ao Walmart na semana passada, mostra que, em média, 500 mil novos lares passam a comprar todos os anos, de forma ativa, em redes de atacado no país. Maior competição entre as empresas, que ampliam descontos, aumentando o tráfego nos pontos, ajuda a sustentar essa demanda. Em abril, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) informou que decidiu fazer um "reposicionamento de preços de forma sustentável" nas novas lojas do Assaí. "Para suportar a estratégia de expansão da bandeira em novas praças e criar fluxo de clientes para as lojas, o Assaí adotou preços mais competitivos, o que ocasionou compressão momentânea nas margens das lojas recém-inauguradas", informa no balanço.

A medida chamou atenção de analistas, mas acaba sendo a forma de ganhar mercado, num segmento liderado pelo rival Atacadão, do Carrefour. Neste ano, o Assaí é uma das prioridades do GPA. De 2014 e 2016, a rede quer abrir 60 lojas, 20 ao ano em média, quase o dobro dos últimos anos. Em maio, o Assaí cresceu 40% (lojas antigas e novas) e só as lojas antigas, com mais de um ano de operação, cresceram 17%, apurou o Valor. De janeiro a março, a receita líquida do Assaí cresceu 26%, para R$ 1,3 bilhão. Entre todos os negócios do grupo, a taxa de expansão só é menor que a do Minimercado Extra.

O crescimento tem vindo, em parte, por um aumento "muito forte" no fluxo de clientes, disse aos analistas em abril Belmiro Gomes, presidente do Assaí - reflexo de uma busca maior pelo modelo de lojas simples que vendem itens a preços abaixo da média do setor.

Na avaliação Vasquez, responsável pela operação do Maxxi Atacado (do Walmart), a desoneração da cesta básica também pesou a favor do atacado em 2013. "Proporcionalmente às vendas, o atacado vende mais itens da cesta básica que os supermercados, e a isenção de impostos aumentou mais o tráfego e vendas desses itens nas lojas", disse o executivo da rede, com 62 lojas no Brasil hoje, mais de três vezes o verificado cinco anos atrás. De janeiro a junho, foram abertas três unidades. "Maxxi foi o modelo que mais abriu lojas no Walmart nos últimos anos", disse ele.

Para ampliar a rentabilidade do negócio, o Maxxi decidiu parar de vender eletrônicos e eletrodomésticos em boa parte de suas lojas. Dos 62 pontos, só 22 ainda vendem os itens e num volume bem menor. "Quem vai ao Maxxi não quer comprar esses produtos. Não faz sentido manter essa operação, que acaba virando um custo."



Veículo: Valor Econômico


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