O alívio na inflação de alimentos impulsionou o setor de supermercados em novembro e levou o volume de vendas no varejo restrito a registrar o nono avanço mensal consecutivo. Os demais indicadores do comércio, no entanto, não tiveram reação expressiva, em linha com o cenário de confiança ainda em baixa do consumidor e crescimento mais fraco do crédito.
Assim, apesar da influência positiva do segmento de maior peso nas vendas, a expectativa média de 19 consultorias e instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data é que a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mostre alta de apenas 0,2% das vendas restritas entre outubro e novembro, feito o ajuste sazonal, mesmo crescimento observado na comparação anterior. As estimativas para o dado de novembro, a serem divulgado hoje pelo IBGE, vão de queda de 0,9% a aumento de 0,7%.
Para o varejo ampliado - que, além dos oito ramos pesquisados no restrito, inclui veículos e material de construção -, 13 analistas trabalham com estabilidade na mesma comparação. As projeções também possuem elevado nível de dispersão sob essa ótica - de recuo de 1,5% a expansão de 1,5%.
Perto da ponta mais otimista das previsões, Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, espera que o volume de vendas do segmento restrito tenha subido 0,5% na passagem mensal, mas pondera que esse desempenho deve ser concentrado no setor de hiper, supermercados e produtos alimentícios. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), as vendas reais tiveram variação positiva de 3,26% em novembro ante outubro, o que, com o ajuste sazonal do ABC, resultou em alta de 2,5%.
A economista observa que nem sempre o indicador da Abras e as vendas de supermercados na PMC caminham na mesma direção, mas espera uma aproximação maior na leitura atual da pesquisa, porque a inflação dos alimentos medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou de 1,03% para 0,56% entre outubro e novembro. "Como o IPCA dos alimentos ficou próximo da inflação geral, o setor não terá tantas distorções em novembro, o que acaba puxando o número do varejo como um todo", diz Mariana.
Para Paulo Neves, da LCA Consultores, o bom comportamento da parte de supermercados pode levar a uma surpresa positiva em relação à estimativa de crescimento nulo para o comércio restrito no período. Como, no entanto, todos os demais indicadores acompanhados pela LCA não foram animadores, diz, a tendência é que as demais atividades pesquisadas pelo IBGE puxem o volume total de vendas para baixo.
De acordo com a dessazonalização feita pela LCA, a expedição de papelão ondulado - que também antecipa a evolução do varejo, além da indústria - cresceu somente 0,1% em novembro, após aumento de 3,3% em outubro. Neves também lembra que a alta da atividade do comércio medida pela Serasa Experian arrefeceu de 1,7% em outubro para 1,1% em novembro, em linha com a perspectiva de piora do dado da PMC em relação à medição anterior.
"As notícias em relação ao Natal não foram muito boas, e o sentimento é que o fim de ano tenha sido morno para o consumo", afirma Neves, para quem a melhora no ganho de renda real explicou o avanço de 1% da demanda das famílias dentro do PIB na passagem do segundo para o terceiro trimestre, recuperação que não deve ter se repetido nos três meses finais de 2013.
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco afirma que a expectativa de alta de 0,5% nas vendas restritas em novembro não altera o cenário de moderação do consumo no quarto trimestre do ano passado. "Acreditamos que o crescimento do consumo vai ser mais lento daqui para frente, devido à expansão mais modesta da renda real, à confiança mais baixa do consumidor, ao aumento dos juros e à expansão modesta do crédito", escrevem os analistas do banco.
Veículo: Valor Econômico