Por Tainara Machado | De São Paulo
A menor disponibilidade de crédito e a inflação de alimentos elevada tiraram fôlego do varejo em abril, enquanto a confiança voltou a cair. Diante de um cenário em que os fatores de sustentação do comércio perdem força, analistas projetam que as vendas no varejo restrito (que não considera o desempenho de material de construção e automóveis) devem ter recuado pelo segundo mês consecutivo, o que não acontece desde novembro de 2008, quando a economia sofreu de forma mais acentuada o impacto da crise global.
De acordo com a média das projeções de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidos pelo Valor Data, o volume de vendas no comércio restrito caiu 0,4% em abril, após retração de 0,5% em março, sempre em relação ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. As estimativas para a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, variam entre queda de 1,75% e alta de 0,9% no período.
Já para o varejo ampliado, que considera, além dos oito segmentos pesquisados no varejo restrito, os de automóveis e material de construção, 12 economistas projetam, em média, alta de 1,6% na passagem mensal, em função da expectativa de recuperação das vendas de veículos, após dois meses de retração.
Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, o fraco crescimento da concessão de crédito e a elevação de juros têm limitado as altas das vendas nos últimos meses. De acordo com dados do Banco Central, em abril deste ano o estoque de operações teve o menor avanço desde o início da série histórica, enquanto a taxa de juros para pessoas físicas subiu de 34,4% em abril do ano passado para 42% em igual período deste ano.
Outro indicador que aponta para desempenho pouco favorável do comércio no mês é a confiança dos consumidores, que voltou a cair em abril, com retração de 0,8% sobre o mês anterior, após ter registrado ligeira alta de 0,1% em março. Para Thaís, os fatores de sustentação do consumo estão debilitados e sugerem retração de 1,4% das vendas no conceito restrito entre março e abril, feitos os ajustes sazonais.
Em relatório, o departamento macroeconômico do Itaú afirma que a projeção de queda de 0,2% das vendas no varejo restrito em abril estão relacionadas principalmente ao recuo de 0,3% das vendas nos supermercados, conforme divulgado pela associação que reúne os representantes do setor (Abras).
Paulo Neves, economista da LCA Consultores, avalia que a inflação de alimentos ainda elevada no mês prejudicou o desempenho do segmento. Embora tenha desacelerado em relação a março, os alimentos e bebidas subiram 1,19% em abril, de acordo com o IPCA.
Neves estima pequena alta, de 0,2%, das vendas no varejo na passagem mensal, principalmente por causa do aumento de 1,6% do movimento dos consumidores nas lojas no período, de acordo com a Serasa Experian. Neves, porém, vê com cautela as perspectivas para o setor. "Outros indicadores, por outro lado, sinalizam alta moderada do comércio, como a inflação de alimentos ainda alta, as condições de crédito pouco favoráveis e a confiança em baixa", diz.
Para o economista, é possível que a realização da Copa do Mundo no país, que começa amanhã, possa animar as vendas em maio e junho, mas de forma bastante tímida. Assim, diz, a perspectiva é de desaceleração no restante do ano. Após divulgados os dados do primeiro trimestre, o economista reduziu sua estimativa de alta para o varejo restrito de 4% para 3,5% neste ano. "O resultado de abril deve confirmar a desaceleração que já observamos no primeiro trimestre", afirma.
Thaís, da Rosenberg, observa que, na comparação com abril do ano passado, as vendas ainda devem apresentar alta em ritmo forte, de 5,2%. A economista, no entanto, também não acredita que as vendas vão manter esse ritmo ao longo do ano e estima avanço do comércio entre 3,5% e 4% em 2014.
Para o varejo ampliado, os economistas ouvidos pelo Valor Data projetam, em média, alta de 1,6%. Para o Itaú, que estima avanço de 0,6% do comércio neste conceito, as vendas de veículos devem ter contribuído positivamente para este resultado, após dois meses de queda. Segundo a Fenabrave, que reúne as revendas de veículos do país, os emplacamentos aumentaram 2,6%, na série com ajuste sazonal do banco.
Veículo: Valor Econômico