Produto Interno Bruto do país cresceu apenas 0,2%, mostrando lentidão da indústria e baixo investimento
Os primeiros sinais do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 confirmam a atual morosidade da economia brasileira. Na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e os últimos três meses de 2013, o PIB cresceu discretos 0,2%. O resultado é fruto da queda da indústria neste início de ano, que caiu 0,8%, e na baixa taxa de investimento, com recuo de 2,1% de janeiro a março.
O baixo dinamismo industrial e a formação bruta de capital em queda também são preocupantes quando a comparação é feita com o mesmo período de 2013. Neste caso, a alta na economia brasileira é de 1,9%.
Com este mesmo recorte, a economia paranaense apresentou um desempenho acima da nacional. Apesar da agricultura ter apresentado retração de 1,9% em relação aos três primeiros meses do ano passado, o crescimento dos serviços em 3% e da indústria local em 3,9% fizeram o estado registrar um crescimento no PIB de 2,8%.
No cenário nacional, o mau desempenho foi justificado pela coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis como resultado de uma série de entraves. “Houve um efeito conjugado de vários fatores negativos. Queda na produção interna, mais importação de bens de capital e desempenho ruim da indústria de transformação”, afirmou.
O “pibinho” era esperado por parte do mercado. Pesquisa da Reuters feita com analistas, por exemplo, já apontava para os 0,2% na comparação trimestral. O Itaú, por outro lado, tinha a expectativa de que os dados divulgados pelo IBGE apontassem um cenário levemente mais otimista. Como não foi o caso, o banco reviu suas projeções e agora espera que o PIB brasileiro cresça 1% ao final do ano – antes, a previsão era de 1,4%.
Menor patamar
Além de ser um dos principais causadores do baixo crescimento, o investimento em queda também deve influenciar os próximos resultados da economia. A baixa formação bruta de capital e a poupança restrita formam uma equação perigosa para uma economia com gastos correntes altos.
Segundo o presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Mendes Lourenço, o governo federal não conta com um plano econômico claro e acaba por não aumentar a taxa de investimentos. “O PAC, que era para ser um plano neste sentido, é composto preponderantemente pelo Minha Casa, Minha Vida e isto não é investimento”, explica. Hoje, o programa habitacional corresponde a 55% do plano de crescimento do governo.
Com isso, a taxa de investimentos em relação ao PIB recuou a 17,7% no trimestre, o pior resultado para o primeiro trimestre desde 2009 – quando a economia mundial passava pela sua última grande crise. “Historicamente temos um problema grave neste sentido. Sem investimento, o crescimento não se sustenta”, completa o economista da Universidade Federal Fluminense, Walter Ribeiro.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por outro lado, colocou na conta dos juros mais altos e da inflação o resultado do PIB. Segundo ele, a conjunção desses fatores tornou o crédito caro, impedindo o crescimento do consumo das famílias, que caiu 0,1%.
Consumo registra 1.ª queda desde 2011
O consumo das famílias, que tem sido o maior trunfo do governo Dilma Rousseff, apresentou a primeira queda nos últimos três anos. Na comparação do primeiro trimestre deste ano com os últimos três meses de 2013, o consumo teve retração de 0,1%. O varejo e o atacado também recuaram na mesma intensidade.
Na percepção do mercado, o resultado aponta para um desgaste no modelo econômico atual. “Os números do PIB apenas mostram o que já vem se materializando nos últimos três anos: um cenário de crescimento baixo, com o consumo mostrando que já perdeu grande parte de sua força como propulsor da economia”, afirma o presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda.
Segundo o economista da Universidade Federal Fluminense, Walter Ribeiro, a matriz brasileira tinha que ter sido revista há anos. “O governo insistiu neste modelo por muito tempo. O ideal era que tivesse sido promovida uma revisão nas prioridades há pelo menos dois anos”, conclui.
Em relação ao mesmo trimestre de 2013, o consumo das famílias ainda se mantém em alta, embora num patamar mais baixo. A alta de 2,2% no primeiro trimestre foi a menor desde o primeiro trimestre de 2012, quando a economia vivia um ciclo de baixo crescimento.
Veículo: Gazera do Povo - Curitiba