Consumidor envelhece e não busca apenas remédio no balcão

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O mercado de farmácias vem passando por intenso processo de transformação. Após expressivo crescimento nos últimos anos, o segmento mantém perspectivas bastante favoráveis. O consumidor está envelhecendo, busca planos de saúde, quer lojas perto de casa ou do trabalho e não quer comprar apenas remédios, mas outros itens como produtos de beleza.

De acordo com projeções da empresa de pesquisas e consultoria IMS Health, o mercado brasileiro de medicamentos deverá atingir faturamento de R$ 87 bilhões (a preço de fábrica) em 2017, com incremento médio ponderado de 13,3% ao ano entre 2013 e 2017. E um dos principais vetores dessa expansão é o envelhecimento da população aliado ao aumento na expectativa de vida.

O número de pessoas com mais de 60 anos - principal grupo etário consumidor de medicamentos - passou de 14,2 milhões em 2000 para 22,1 milhões em 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para as próximas décadas, o IBGE projeta evolução significativa para a população acima de 60 anos: 29,3 milhões em 2020; 41,5 milhões em 2030; 54,2 milhões em 2040; 66,5 milhões em 2050; e 73,6 milhões em 2060.

Ao analisar a participação dessa faixa etária em relação à população total, o crescimento salta aos olhos: de 8,2% em 2000 saltou para 11% em 2013 e deverá representar 23,8% em 2040 e chegar a 33,7% em 2060.

"São mais pessoas consumindo remédios por mais tempo e precisando deles para continuar vivendo bem", diz Marcílio Pousadas, presidente da Raia Drogasil, maior rede de farmácias do País em faturamento. O executivo cita, no estudo Valor Análise Setorial "Farmácias & Drogarias", outros impulsionadores do negócio: maior acesso a planos de saúde e melhoria de renda da população. Em 2013, a empresa teve receita de R$ 6,4 bilhões, com expansão de 15,6% na comparação com o ano anterior.

As redes filiadas à Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) tiveram no primeiro semestre deste ano faturamento em torno de R$ 15 bilhões - quase 14% maior do que no mesmo período de 2013. As vendas de não-medicamentos somaram R$ 5,02 bilhões, representando 32,69% das vendas totais.

O "negócio farmácia" também ganha importância na estratégia das redes supermercadistas. Estas estão proibidas por lei de vender remédios nas suas gôndolas e prateleiras, mas podem ter farmácias operando de maneira autônoma, como uma prestação de serviço extra. "Cada vez mais o supermercado vem se convertendo num autêntico centro de compras e conveniência, com uma vasta gama de serviços ao seu consumidor. E as farmácias se inserem nesse contexto. Além disso, elas tendem a ter boa viabilidade financeira, necessitando de pouco espaço para sua implementação", diz Sussumu Honda, presidente do conselho consultivo da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados).

O segmento de farmácias de supermercados deve superar R$ 2 bilhões em 2014. "Trata-se de oferecer mais um serviço a esse contingente que envelhece e tem mais acesso aos tratamentos e medicamentos necessários para a manutenção de sua saúde", diz Honda.

Eduardo Rocha, diretor da IMS Health, observa que a farmácia deixou de ser o local "onde as pessoas vão procurar só remédios". Para Rocha, o varejo farmacêutico está muito mais parecido com o tradicional. "Briga pelo consumidor da mesma maneira que os demais segmentos varejistas."

"Tudo o que for referente à saúde e beleza nós vamos trabalhar com força", diz Pousadas, da Raia Drogasil. "Crescemos mais que os supermercados no segmento de beleza." Um dos trunfos é a combinação de conveniência e especialização. Nas lojas, para orientar o consumidor, há cerca de 280 consultoras de beleza - o número crescente de produtos e marcas deixou a venda no balcão mais difícil. "Vai vencer quem conseguir resolver essa complexidade", diz Pousadas.

A rede Pague Menos, com forte presença no Nordeste, não se vê "apenas como farmácia, mas como um lugar bastante conveniente para adquirir produtos correlatos a medicamentos", diz seu presidente, Francisco Deusmar Queirós. As linhas de higiene e beleza são grande motor de crescimento. No primeiro trimestre de 2014, responderam por 16,8% das vendas. E a categoria que engloba todos os produtos que não são de higiene e beleza ou medicamentos (de pilhas a papinhas) já representa 8,8% das vendas; cresceu 22,7% no primeiro trimestre de 2014 sobre o mesmo período de 2013.

O desempenho da rede Permanente, com cerca de 70 lojas distribuídas por Pernambuco, Alagoas e Paraíba, vem sendo impulsionado principalmente pela "migração de clientes para a classe C", diz Alexandre Alamarck, gerente-comercial da empresa. As vendas de itens de higiene e beleza, com destaque para perfumaria, equivalem a 40% do faturamento total.



Veículo: Valor Econômico


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