Enquanto um canal oferece preços baixos nas compras de maior volume, o outro aposta em pacotes promocionais para atrair o consumidor. Mas ambos crescem acima dos supermercados
São Paulo - Considerado como um canal complementar ao supermercado, o segmento atacadista (cash&carry) disputa a preferência dos consumidores com os minimercados. Assim como as lojas de vizinhança, os canais têm resistido à crise, por contar com preços atrativos.
Dados da Nielsen apontam que de janeiro a abril as vendas reais no setor de cash&carry, ou "atacarejo", cresceram 7,5%, enquanto os supermercados amargam míseros 0,59%, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). "Os atacarejos cresceram, pois os consumidores migraram do hipermercado para o atacado", disse o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), José do Egito Frota Lopes Filho.
Segundo a entidade, os gastos do consumidor neste canal cresceram 29%, enquanto nos mercados a expansão foi de 17%. Para o especialista, hoje os atacarejos são canais considerados como complementares aos supermercados, e isso tem impulsionado as vendas do segmento. "Não conheço pessoa mais sabida que a dona de casa. Ela pesquisa preço e compra em mais de um canal para poder economizar", explicou Lopes Filho, acrescentando que "isso significa que o cash&carry caiu no gosto dessa consumidora em função do custo-benefício". Hoje, além de ser complementar no momento em que o consumidor vai abastecer "sua dispensa", o atacarejo está disputando a preferência do consumidor com os mercados de vizinhança. "O atacarejo tem preço competitivo, mas não tem pacotes promocionais. Já os minimercados são mais agressivos nessas promoções. Isso justifica a disputa entre os canais", explicou Lopes Filho.
Alimento
A Abad aponta que o aumento nas vendas no pequeno varejo alimentar foi de 7,5%, e que o consumidor tem gasto, em média, 10,5% nas lojas de vizinhança. Essa maior participação também ajuda o atacadista distribuidor a desempenhar um bom papel. "Os distribuidores abastecem essas operações de bairro. Logo também estão crescendo no País por conta dessa demanda do brasileiro", diz Lopes Filho.
O bom desempenho, aponta, é reflexo do retorno de um antigo hábito dos brasileiros, o das compras de abastecimentos e pelo canal ser vantajoso para economizar ele se destaca. "Foi percebido aumento no fluxo de consumidores [pessoa física], enquanto o público jurídico, os que atuam com operações noturnas, houve recuo de 20%", disse o presidente da rede Assaí Atacadista, Belmiro Gomes. Segundo ele, o fluxo maior de compras na operação de atacarejo do Grupo Pão de Açúcar (GPA) acontece na primeira quinzena do mês. "No período o fluxo é maior".
Baixo custo
Para Gomes, o atacarejo é mais resistente em momento de crise devido ao baixo custo. "A construção [das lojas] é mais barata e não há custo com serviços, porque o formato não demanda isso", diz. A importância do Assaí no GPA é tamanha, que o player só cresce. "Estamos com 87 lojas e outras seis em construção. A operação faturava R$ 1 bilhão quando foi comprada [entre 2008 e 2009] e agora pode chegar a R$ 11 bilhões", comentou.
Na rede Tenda Atacado, consumidores que procuram o canal para abastecimento focam as compras em setores específicos. "Produtos de higiene e limpeza, bebidas, hortifrúti, carnes, frios, laticínios e uma linha muito interessante de bazar , algumas de forma exclusivas ao Tenda", disse o diretor geral da operação, Fernando Bara. Conforme o executivo, é possível manter esse público mesmo se a economia voltar a prosperar. "Fazer grandes compras da indústria para se ter boas condições de preços significa ter promoções para aos clientes. Acreditamos que com o aperto do orçamento familiar , existirá procura maior pelo canal." (Flávia Milhassi)
Veículo: Jornal DCI