São Paulo - O setor supermercadista vai precisar negociar mais com os fornecedores para conseguir ter ofertas melhores nas prateleiras nos próximos meses. A meta é melhorar o desempenho no segundo semestre, prejudicado pelo recuo dos consumidores nos primeiros seis meses com alta dos preços.
Com as iniciativas, o setor espera recuperar no segundo semestre, ajudado também pela sazonalidade com as vendas de final de ano. "Estimamos crescer 0,5% no segundo semestre", afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo.
Segundo balanço do acumulado do ano feito pela Abras, as vendas não apresentaram variação na comparação com o mesmo período do ano anterior. "Nosso crescimento foi zero no período. Poderia ter sido pior mas encaramos como um bom resultado", comemorou ele. Para o especialista, a estabilidade vista no varejo alimentar deve-se ao fato de o consumidor ter reduzido os gastos com alimentação fora do lar. "Eles economizam não indo a restaurantes e passam a cozinhar mais em casa", disse o vice-presidente.
Novos hábitos
A mudança desse hábito foi comprovada pela pesquisa da Nielsen. Na amostragem, a consultoria identificou queda de 3,1% no canal bar, mas crescimento de 12,2% na venda de cervejas nos supermercados. "Isso mostra que o consumo de cerveja que acontecia nos bares passou a acontecer nos lares", explicou a gerente de atendimento da consultoria Nielsen, Maria Fernanda Celidônio, ao DCI.
A mudança no padrão de consumo é diferente entre as classes sociais. Segundo o gerente de economia e pesquisa da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Rodrigo Mariano, enquanto a classe C deixa o supérfluo de lado e foca nos gastos de itens básicos, as classes A e B fazem justamente o caminho contrário. "Eles economizam no básico para manter a compra dos produtos premium que estão acostumados", disse Mariano.
Dados da Nielsen confirmam a movimentação do consumidor. Mais de 60% dos brasileiros pertencentes à classe C afirmaram ter cortado os gastos nas categorias supérfluas. A pesquisa indicou também que enquanto os gastos com os itens da cesta básica cresceram 5,3%, na categoria de "luxos" esse volume foi 2,4% menor. Já as projeções da Apas estão em linha com a entidade nacional, pois mostram o arrefecimento do varejo alimentar este ano. "Nossa expectativa é fechar 2015 com 8,5% de crescimento, mas nesse período teremos a mesma porcentagem de inflação. Logo o crescimento será zero para o setor no Estado de São Paulo", explicou.
Mariano afirmou também que o segmento supermercadista deve começar a ter uma tímida e lenta melhora só a partir do primeiro semestre do ano que vem. "Sentimos com a crise econômica, mas o impacto em nosso setor é diferente. Acredito que no começo do ano que vem, o segmento comece a dar sinais de melhora. Mas crescimento de dois dígitos como visto no passado, só daqui a uns dois anos", disse.
A inflação também é vista como vilã. Para a Abras, ela corroí o poder de compra do consumidor. "Crise política e econômica; queda forte na confiança; aumento do desemprego; diminuição da massa salarial somados à inflação. Tudo isso leva o consumidor a restringir os seus gastos, e não só no varejo alimentar", argumentou Sanzovo, da Abras.
Grande vilã
Segundo o diretor de relacionamento da consultoria Gfk, Marco Aurélio Lima, os preços dos alimentos nos supermercados foram os mais caros dos últimos cinco anos. "No primeiro semestre os itens ficaram 7,83% mais caros, o maior valor desde 2010", declarou.
Conforme Lima, além dos fatores mencionados pelo presidente da Abras, o aumento da energia elétrica, a alta do dólar e o aumento do custo da mão de obra também são responsáveis pelo desempenho fraco dos supermercados. Uma das medidas adotadas pelo setor para reduzir esse impacto no ponto de venda foi a criação de um número maior de promoções. "A indústria entendeu a necessidade de trabalhar em conjunto e isso tem ajudado o varejo a oferecer preços (mesmo inflacionados) em pacotes promocionais, por exemplo", disse João Sanzovo.
Nas grandes redes, esse poder de barganha com os fornecedores é mais fácil. Já entre os pequenos e médios supermercadistas não, mas eles podem aproveitar o canal atacadistas para também ofertar itens promocionais. "Tem um esforço da indústria em disponibilizar essas promoções nos atacados. Desta maneira, o pequeno e médio supermercadista pode ser competitivo também", apontou o vice-presidente da Abras. Ao que completou: "Os clubes de compras devem ter um crescimento significativo este ano, pois ajudam os supermercados a se abastecer".
Veículo: Jornal DCI