O varejo de supermercados não deu sinais claros de retomada no primeiro bimestre do ano. A perspectiva da associação do setor (Abras) para a próxima data comemorativa, a Páscoa, ainda é de retração. A entidade projeta queda de 7,7% nas vendas dos produtos relacionados à data em relação a 2016, quando houve recuo de 5%. Janeiro e fevereiro acumulam praticamente estabilidade sobre o ano de 2016 (leve queda de 0,07%), sendo que a base de comparação (os dois primeiros meses do ano passado) é fraca. Em fevereiro de 2017, as vendas caíram 0,24% sobre mesmo mês de 2016. Fevereiro sobre janeiro registrou queda real de 1,93%.
"[O dado de fevereiro] sugere que ventos contrários macroeconômicos são persistentes, arrastando tráfego e mantendo mudança nos hábitos de compra [..] Nos mantemos cautelosos e não vemos evidências claras que possam suportar recuperação consistente nas vendas", escreveu em relatório ontem Guilherme Assis, analista do Brasil Plural. Fevereiro não é um mês com grandes expectativas de vendas - o Carnaval, historicamente, atrapalha o comércio. Março deve servir como um teste para verificar algum sinal inicial de recuperação.
O Valor apurou que o Grupo Pão de Açúcar registrou vendas em março num ritmo superior ao de fevereiro. No início do ano existiam dias bons em vendas intercalados com dias mais fracos. Mas março "emendou" consistência maior nos números do grupo. Apesar do início de ano pouco animador, está mantida a expectativa de que o setor de supermercados apure crescimento real (sem considerar a inflação) de 1,3% nas vendas em 2017. "Mantemos a projeção de alta de 1,3% no ano, mas ainda não podemos confirmar quando é possível acontecer a 'virada' no resultado", disse ontem o presidente da Abras, João Sanzovo Neto.
A entidade ainda publicou ontem dados do ranking geral do setor. Como o Valor já havia antecipado no fim de janeiro, o Carrefour atingiu vendas de R$ 49,1 bilhões em 2016, alta de 14,8% sobre 2015. O Grupo Pão de Açúcar se expandiu 11,7% na área alimentar, para R$ 44,9 bilhões em receita bruta em 2016. O Carrefour é maior hoje que o GPA, mas há um aumento mais acelerado na taxa de crescimento do GPA em 2016. A empresa dobrou seu índice de expansão em relação a 2015.
No Carrefour, cerca de 40% dos R$ 49,1 bilhões são vendas em supermercados e hipermercados - equivalente a pouco menos de R$ 20 bilhões em receita em 2016, calculou o Valor. A empresa não abre os dados por formato. No GPA, cerca de 65% das vendas totais acontecem nessas lojas - ou R$ 29 bilhões (ou seja, quase R$ 10 bilhões a mais que o rival), informa em balanço anual. Isoladamente, o Atacadão, rede de atacarejo do Carrefour, responde por cerca de 60% da receita total do grupo, segundo fonte (equivaleria a R$ 29 bilhões em 2016). O Assaí, marca de atacarejo do GPA, ainda vende menos que o concorrente, quase R$ 16 bilhões, apesar da abertura acelerada de novos pontos.
De acordo com os números da Abras, o setor atingiu um dos mais baixos ritmos de expansão em área de vendas em 2016, um dos sinais que mostram a paralisação nos investimentos das varejistas. O número de lojas abertas, analisado isoladamente, parece indicar um dos melhores anos de crescimento do mercado - passou de 88,5 mil pontos em 2015 para 89 mil em 2016. Mas a área de vendas subiu apenas 100 mil metros quadrados. Isso ocorre quando muitos minimercados são inaugurados, em áreas pequenas (chegam a ter 200 metros quadrados).
Fonte: Valor Econômico