Depois da queda forte de 2,1% em dezembro, o varejo voltou a crescer no primeiro mês deste ano, 0,4% no conceito restrito - que exclui automóveis e material de construção -, conforme a média de estimativas enviadas por 24 consultorias e instituições financeiras ao Valor Data. A avaliação de que o comércio terá resultado positivo em janeiro, contudo , não é consenso entre economistas. As estimativas para o dado que será divulgado amanhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) variam de retração de 0,5% a crescimento de 1,3%. Diante da retração expressiva observada nas vendas de veículos no país no período, a expectativa de contração para o varejo ampliado na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) é maior, de 0,8%, conforme a média de 21 projeções. Na comparação com janeiro de 2015, o tombo seria de 5,9%.
Além dos números, na ocasião o IBGE também apresentará uma nova série da pesquisa, que passará a adotar o ano de 2014 como base para a série encadeada e a incorporar volume maior de empresas à amostra - serão 6,2 mil, ante 5,7 mil anteriormente. Essa foi a razão que levou o instituto a apresentar os resultados apenas no fim do mês, cerca de dez dias após o período habitual. O crescimento do varejo restrito em janeiro será reflexo principalmente do desempenho positivo das vendas em hiper e supermercados, avalia o economista da LCA Consultores Paulo Robilloti. No dado da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) deflacionado pela consultoria - levando em conta apenas a trajetória do item alimentação no domicílio do IPCA -, o avanço foi de 3,8%.
Uma alta próxima dessa magnitude na PMC devolveria a retração expressiva do segmento em dezembro, de 3% sobre novembro, na série com ajuste. "Com o efeito positivo da descompressão dos preços sobre a renda, o desempenho dos supermercados pode surpreender." Para o economista da Parallaxis Rafael Leão, o varejo restrito também vai ser ajudado pelo aquecimento típico do comércio durante as férias do início do ano e pelas vendas de material escolar. Apesar de esperar número positivo para o dado de janeiro, alta de 0,6% em relação a dezembro, feito o ajuste sazonal, ele avalia que o consumo só deve regisstrar resultados mais consistentes no último trimestre de 2017.
A liberação dos recursos das contas inativas do FGTS, ele pondera, que poderiam dar fôlego maior ao varejo no curto prazo, devem ser usadas em sua maior parte na quitação ou amortização de dívidas. Sem uma retomada consistente do mercado de trabalho, concorda Robilloti, não se pode esperar recuperação "robusta" da atividade do comércio nos próximos meses. Mesmo assim, ele destaca a melhora do custo de crédito para as famílias como mais uma fonte de alívio para o segmento. Entre dezembro e janeiro, a taxa média de juros para pessoa física para a aquisição de bens duráveis (com exceção de veículos) caiu de 95% ao ano para 92%. Nos últimos quatro meses, o recuo médio foi de um ponto percentual por mês. "Não dá para falar em recuperação robusta, mas a tendência [de custo decrescente do crédito] ajuda."
A equipe do Santander ressalta que, apesar dos sinais recentes positivos - o processo consistente de desinflação da economia, a estabilização do rendimento real do trabalho e a trajetória ascendente da confiança do consumidor -, o consumo privado ainda crescerá de forma lenta ao longo deste ano. A tendência de alta da taxa de desemprego não será revertida nos próximos meses, com pico previsto apenas para o início do segundo semestre, e porque os níveis de comprometimento de renda das famílias seguem elevados.
Para janeiro, a instituição espera avanço de 0,4% para o varejo restrito. Para o ano fechado, a projeção para esse conceito é de alta 0,8% e para o ampliado, de 0,3%. A LCA estima crescimento de 0,5% para o comércio restrito. O desempenho, apesar de fraco, representaria avanço significativo sobre o resultado de 2016, quando o varejo recuou 6,2% e o recuou 6,2% e o ampliado, 8,7%.
Fonte: Valor Econômico