Depois do tombo de 1,9% no mês de março, as vendas do comércio varejista voltaram a recuar em abril, 0,4%, conforme a média de 17 estimativas enviadas por consultorias e instituições financeiras ao Valor Data para o varejo restrito da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).
As projeções para o dado que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje, contudo, estão bastante dispersas e variam de alta de 1,3% a queda de 1,6% sobre o mês anterior. Quatro preveem crescimento.
Para o varejo ampliado, que inclui veículos e material para construção, a média de estimativas sinaliza um crescimento de 0,4% nas vendas em volume em relação a março, na série com ajuste sazonal. Na comparação com abril de 2016, a projeção é de queda de 2,5%.
Na ponta otimista, a Tendências espera alta de 0,8% para o varejo restrito no confronto com março. Com esse desempenho, o comércio registraria, em relação ao mesmo período do ano anterior, o primeiro resultado positivo em 25 meses, de 0,7%.
Para o economista João Morais, apesar das fortes oscilações nas comparações de curto prazo da PMC - elevação de 6% em janeiro e contração de 1,6% e de 1,9% em fevereiro e março, nessa ordem -, "o cenário de recuperação está dado".
Os fundamentos, Morais pondera, tiveram melhora acima do esperado nos últimos meses. A inflação tem desacelerado mais rápido - beneficiando o poder de compra dos salários - e os juros continuam recuando, apesar da instabilidade política.
"O cenário é bem mais favorável do que cinco meses atrás", diz ele, que revisou de zero para 2,2% a estimativa para o crescimento do varejo restrito em 2017. A mudança aconteceu após a reponderação da pesquisa feita pelo IBGE, que melhorou significativamente o resultado de janeiro.
Em abril, o economista da Tendências espera uma melhora generalizada das vendas em volume, com destaque para os segmentos de vestuário e eletrodomésticos, destino de parte dos recursos dos saques nas contas inativas do FGTS que foram canalizados para o consumo.
A retração do indicador coincidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), por outro lado, calibrou a expectativa da equipe do Bradesco de queda de 0,7% do comércio restrito em abril. No confronto com março, as vendas de supermercados recuaram 2,3%, de acordo com ajuste sazonal feito pela própria instituição. Sobre abril de 2016, a pesquisa da Abras mostrou avanço de 7,3%.
Também com projeção de retração, de 0,5%, a Rosenberg Associados pondera que, apesar da ajuda dada pela comemoração da Páscoa, os feriados e a paralisação geral de abril devem influenciar negativamente o resultado da pesquisa do IBGE.
Morais, da Tendências, ressalva que o número esperado para abril pode vir melhor, caso haja revisão do dado de março, de queda de 1,9% sobre fevereiro. O tombo de 8,9% da receita nominal da categoria de supermercados, ele diz, intrigou alguns economistas, já que é muito superior do que sinalizavam os indicadores coincidentes - e foi o principal desvio das projeções para o varejo restrito em março, que esperavam retração menor.
"O dado surpreende mais que o de janeiro", ele afirma, referindo-se ao salto que o indicador referente ao primeiro mês de 2017 deu após um ajuste feito já na série atualizada, de queda de 0,7% para aumento de 5,5%.
Sobre esse episódio, o economista comenta que, após alguns testes feitos pela consultoria, o dado destoante é, na verdade, o do segundo semestre do 2016. Em geral, é possível ver uma correlação entre a série da PMC e o consumo dentro do Produto Interno Bruto (PIB). Na segunda metade do ano passado, contudo, elas descolam - movimento que foi corrigido no primeiro trimestre deste ano.
Fonte: Valor Econômico