O aumento da alíquota de PIS/Cofins sobre o diesel, anunciado pelo governo na quinta-feira (20), deve impactar os custos do frete rodoviário na faixa de 2,5% a 4%, em média, estimam entidades que representam as empresas de transporte de cargas.
A previsão de 2,5% foi calculada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e a mais alta, pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística). Ambas afirmam que os alimentos e outros produtos ficarão mais caros com a mudança.
O aumento dos custos com frete deve pesar principalmente sobre os itens de menor valor agregado (que têm pouca margem para absorver o impacto) e que são transportados por longas distâncias, afirma a NTC & Logística. Nessa lista, estão incluídos os produtos de cesta básica, como arroz, feijão e farinha, além de água, ovos, frutas e verduras.
"Para o caminhão, o que interessa [na hora de cobrar pelo transporte] é o peso. 1 kg de feijão é igual a 1 kg de ouro, mas como o feijão custa muito mais barato, o preço do frete pesa mais sobre ele que sobre o ouro", explica Lauro Valdivia, assessor técnico da associação. "E quem roda muito não vai ter como escapar", emenda.
O preço dos grãos enviados para exportação, como soja e milho, que partem normalmente do centro-oeste do país para os portos no litoral, também devem ter forte reflexo nos preços, afirma Valdivia.
Segundo ele, a alta nos preços dos produtos, em geral, só deve começar a ser sentida em duas semanas, depois que for possível medir o real efeito do aumento dos impostos nas bombas de combustível. Nesta sexa-feira, postos visitados pelo G1 já vendiam gasolina com reajuste.
Quem faz compras pela internet também pode acabar pagando mais caro. "Um aumento do preço do combustível vai encarecer o frete, que já não é barato no Brasil por conta dos custos com seguros, e pode prejudicar sim o consumidor", diz Rodrigo Bandeira Santos, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm).
Supermercados
Em nota, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), disse que "esse acréscimo no valor dos combustíveis terá reflexo em toda a cadeia de abastecimento e irá penalizar todos os setores da sociedade".
Porém, para o economista André Braz, do FGV/IBRE, o impacto do custo do frete no preço de produtos pode não ser significativo porque produtores e distribuidores podem absorver o aumento (e não repassá-lo) para não perder vendas na crise, especialmente quando se trata de industrializados.
"O efeito diante de uma demanda enfraquecida pode ser de perda de margem de lucro e não de aumento de preço", avalia.Ele acredita, entretanto, que os alimentos podem ficar mais caros. "Mas não vai gerar uma pressão grande, porque os preços estão em queda neste ano". A FGV projetava uma queda de 1% nos preços de alimentação em 2017, antes da mudança tributária.
Outra conta que deve ficar mais pesada é a do ônibus urbano, segundo o economista da FGV. "O diesel tem um peso muito grande na planilha de custos do transporte público, junto com mão de obra. Boa parte das cidades já revisaram as tarifas [de passagem] em 2017, mas São Paulo e Rio, que mais pressionam o IPCA (índice de inflação oficial), ainda não", afirma.
Efeito na inflação
O FGV/IBRE calcula que a nova carga tributária sobre combustíveis deve refletir em aumento de 0,4 ponto percentual na inflação ao fim do ano.
"O IPCA deve fechar em 3,30%, 3,50%, já com os efeitos indiretos [da medida]. Mesmo com um impacto dessa magnitude, a taxa ainda deve fechar 1 ponto percentual abaixo da meta central [que é de 4,5% para 2017]", diz Braz.
A NTC calcula que o combustível compõe em média 40% do custo do frete, que por sua vez compõe aproximadamente 5% do preço final dos itens transportados.
Fonte: Blog do Felipe Silva