Itens tradicionais da lista de importados típicos das ceias de fim de ano, castanhas, amêndoas e frutas cristalizadas vão exigir de lojistas e consumidores verdadeiro malabarismo para que sejam mantidos na escalação das delícias que embalam as confraternizações. Com o dólar ainda em elevação frente ao real, os preços desses produtos permaneceram elevados, como nos anos anteriores. O cenário será de concorrência forte promovida pela mercadoria nacional. Em Minas Gerais, a expectativa, de maneira geral, é de crescimento de 2% das vendas dos supermercados, segundo a Associação Mineira de Supermercados (Amis).
Pesquisa feita pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostra que a tendência entre os empresários do setor é de pessimismo quanto ao consumo dos importados, que deverá entrar em campo negativo. Um motivo adicional de desânimo do comércio em Minas é o atraso no pagamento do 13º salário dos servidores estaduais.
De acordo com o levantamento feito pela Abras, as vendas de produtos importados, de maneira geral, devem apresentar queda de 4,17% em relação aos números registrados no ano passado. A maior baixa é esperada para as frutas secas, de 4,01%. Os vinhos importados também vão enfrentar retração de 2,66% e os espumantes, de 0,34%. Por outro lado, as frutas nacionais da época estão no campo positivo das expectativas, embora de pequena variação de 0,5% nas vendas, comparadas às de 2016. Em alguma medida, as estimativas são de que o consumidor optará por elas na hora de montar o cardápio da ceia.
No Mercado Central de Belo Horizonte, os comerciantes que têm como carro-chefe a venda desses produtos esperam fechar no empate em relação ao ano passado. Apesar da recuperação do fluxo de consumidores nos corredores do centro de compras na última semana, os comerciantes acreditam que o cenário não será de crescimento. Segundo Antônio Sérgio Tavares, dono do Império dos Cocos, a disputa pelo cliente vai se dar na base da criatividade para vender.
“Os preços tendem a permanecer os mesmos (de 2016), até porque a concorrência está forte, tanto aqui dentro do mercado como também com os supermercados, então a gente tem que apostar no bom atendimento, por exemplo”, afirma Tavares.
Saia justa Pra tentar driblar a alta nos preços os comerciantes têm adotado algumas alternativas. Diante dos preços elevados, a mistura de itens nacionais e importados pode ser a solução para deixar o preço mais competitivo, como acredita Eduardo Campos, supervisor de vendas do Empório Ananda.
A loja passou a oferecer kits que misturam as castanhas nacionais e as importadas nozes e amêndoas, por exemplo, o que, assim, proporciona preços mais atrativos. “Com esse mix, a gente consegue derrubar o preço pelo menos em cerca de R$ 10”, revela.
Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, o momento pode trazer surpresas e apresentar números melhores que a expectativa do setor. Segundo ele, a se basear pelos indicadores de importação do último trimestre, que apontaram avanço, principalmente de vinhos importados, nozes e bacalhau, as vendas ainda podem crescer.
A despeito da valorização do dólar sobre o real, lembrou Bentes, a moeda norte-americana está cerca de 3% mais barato que em 2016.
Safra e preferência Bentes destaca que em todas as datas comemorativas deste ano o comércio apresentou melhora dos negócios, na comparação com 2016. Isso, na opinião dele, já pode ser bom indicador de um cenário mais positivo para o setor. O economista diz que os preços dos alimentos caíram ao longo do ano, sobretudo em razão da virada nos índices que retratam o comportamento da economia e também pela boa safra nacional. O quadro, porém, pode indicar a possibilidade de o cliente fazer ajustes com produtos brasileiros.
Os consumidores, por sua vez, tentam manter, na medida do possível, a tradição nesta época do ano. Nem que seja comprando em quantidade menor. Para Daiane Ferreira, de 29 anos, operadora de torno na indústria, os importados estão sendo, a rigor, retomados neste ano, depois da pausa no consumo que ela determinou em 2016. “Ano passado não comprei e acho os preços ainda mais altos”, afirmou. Segundo ela, que sempre escolhe o Mercado Central para fazer as compras, essas ficarão mais concentradas nas nozes e avelãs. Quem faz coro sobre os preços altos é a aposentada Angela Lebron. “Este ano, os preços estão bem mais altos que em 2016”, Apesar disso, ela conta que não consegue resistir. “Estou comprando as mesmas coisas. Faz parte da tradição”, contou.
Fonte: O Estado de Minas (Em.com.br)