Faturamento do Atacadão deve bater nos R$ 100 bi em três anos

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Resultado deve vir da inauguração de novas lojas, conversões e comércio eletrônico

 

O Atacadão, rede de atacarejo do grupo Carrefour, projeta chegar aos R$ 100 bilhões em vendas brutas em três anos, ancorado numa aceleração no volume vendido, apesar do cenário atual mostrar perda de fôlego nessa linha. Neste ano, o faturamento da rede deve atingir R$ 60 bilhões.

 

Segundo o novo CEO do Atacadão, Marco Oliveira, no cargo desde agosto, a escalada da inflação está levando os clientes a fazer compras em quantidades menores, mesmo no atacarejo – que já opera com preços de 10% a 20% abaixo do varejo.

 

Existe, porém, expectativa de queda nesse ritmo de reajustes após 2022, algo que, somado a aberturas de lojas, expansão da operação digital, aumento de vendas em pontos mais antigos e integração de aquisições, deve levar a rede aos R$ 100 bilhões, diz ele.

 

Em março, o Carrefour anunciou, por R$ 7,5 bilhões, a compra do Big, dono do Maxxi Atacado e de mais de 107 hipermercados. Parte dos pontos do Big deve se transformar em Atacadão. A bandeira Maxxi também deve migrar.

 

“Devemos atingir R$ 60 bilhões em vendas neste ano, o que já deve colocar o Atacadão, sem incluir o Carrefour, na oitava ou nona posição de maior empresa [no setor de comércio] do país. Sendo conservador, podemos chegar nos R$ 100 bilhões em três anos, porque, de todas as variáveis ligadas a crescimento, a única que não controlo é o volume de unidades do Big que irão virar Atacadão”.

 

No mercado, as projeções de bancos são de alta de 10% de alta na receita anual do grupo Carrefour até 2025, com o atacarejo subindo o dobro, e chegando em cerca de R$ 105 milhões em 2024.

 

Segundo o executivo, se o grupo Carrefour for mais agressivo nas conversões dos hipermercados, é possível alcançar R$ 100 b ilhões em dois anos. “Trabalho com expectativa de inflação anual de 4%, com uma desaceleração do nível atual no ano que vem. Mas, caso a inflação se mantenha ainda alta, chegamos antes nisso”. O Maxxi respondia por 27% das vendas líquidas do Big em 2020 (R$ 5,7 bilhões), e as lojas estão concentradas no Sul e Nordeste, onde o Atacadão é fraco. Menos de 10% das lojas do Maxxi estão em São Paulo.

 

O Atacadão cresceu quase 19% em vendas de janeiro a junho, mesmo com a base de comparação forte de 2020 – o braço de varejo encolheu 0,7%. O lucro antes de juros, impostos amortização e depreciação (ebitda) avançou 5%, versus queda de 8% no varejo.

 

Oliveira não faz projeções sobre volume de conversões de lojas do hipermercado Big porque ainda cabe análise das informações da rede, mantida separada até a avaliação do caso pelo Cade, o órgão de defesa da concorrência. Ele crê que o Cade aplicará “alguns remédios” sobre a transação. “Há sobreposição [de lojas entre as empresas], mas é gerenciável”.

 

“O hipermercado Big virando Atacadão é mais complexo em termos de investimentos porque há muita mudança. Você tem quase que derrubar loja e fazer de novo, só que a tendência é a venda triplicar após a troca”, diz Oliveira, que substitui Roberto Müssnich, que esteve por 20 anos na empresa. O grupo é o maior varejista do país.

 

A empresa ainda irá acelerar, em relação aos anos anteriores, o volume de lojas menores, de 3,5 mil a 4 mil metros quadrados. O formato atingiu metade das inaugurações neste ano – o maior patamar histórico – e esse nível deve ser mantido até 2024, pelo menos. O índice era 10% em 2019 e foi a 40% em 2020. Isso tende a elevar mais o nível de competiç ão nessas áreas mais populosas – redes como Assaí e Mineirão, do grupo DMA (dono do Epa), já vem há alguns anos abrindo mais pequenas lojas.

 

Para o executivo, “loja menor dá um horizonte de expansão maior” porque a rede passa a poder prospectar novas regiões. “Com esse formato, eu posso baixar o meu limite de abertura para municípios com até 120 mil habitantes, e com isso, teremos mais 250 cidades com potencial para receber o modelo”, afirma. “Fizemos nos últimos 15 anos lojas maiores porque tinha mercado. Hoje, tudo já está tomado, até por nós mesmos”.

 

Ele cita a recente abertura, em março, nesse modelo menor, na avenida Inajar de Souza, zona norte da capital paulista. É uma unidade de 3,9 mil metros quadrados num terreno de 12 mil. “Ela já sinaliza que vai vender R$ 250 milhões ao ano nessa metragem, é algo muito bom [as grandes, com dobro da área, vendem R$ 350 milhões ao ano]”.

 

Eram 206 unidades do Atacadão ao fim de 2020 e a meta é fechar este ano com 250 lojas, ou seja, adição de 44. Destas 44, a metade serão aberturas e outr a metade são pontos já adquiridos do Makro em 2020. Para efeito de comparação, o Assaí, vice-líder, projeta entre 22 e 25 aberturas neste ano.

 

As lojas oriundas do Makro são um outro foco de atuação. As vendas mensais, em média, do Makro, deveriam chegar a R$ 350 milhões (por ponto) em quatro anos, mas atingiram R$ 300 milhões neste mês. A rede alcançou “breakeven” (ou seja, ebitda zero) em junho, e virou julho no positivo. “Esperávamos que isso só acontecesse dois anos após a compra [logo, em 2022]”.

 

Em termos de demanda, o CEO diz que a retomada das vendas às empresas, especificamente restaurantes e hotéis, está muito lenta. Já mercadinhos de bairro e bares avançam mais rápido. Ele projeta normalização até fim do ano.

 

Na venda ao consumidor, o Atacadão já percebe um aumento na frequência de compra (que caiu na pandemia), mas com volume diminuindo em alguns produtos. “Infelizmente, já vemos esse cliente comprando menos. Somos um modelo mais resistente às crises, mas o que o varejo sentiu meses atrás, começa a chegar na gente”.

 

“A boa notícia é que temos essa venda para o comerciante, para a empresa, que lentamente vem se recuperando, e equilibra essa balança. No fim das contas, eu consigo gerar volume ao somar pessoa física e jurídica, e tem a inflação que continua alta, e ajuda a recompor receita nominal”.

 

Ele diz que a inflação ainda pressionará a venda em 2021, mas 2022 deve haver uma menor pressão, porque os acordos coletivos de sindicatos têm conseguido repor parte das perdas, “e porque o reajuste de preços já chegou a um limite”.

 

Fonte: Valor Econômico 


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