Nos últimos três anos, a Casas Bahia construiu um dos maiores programas de reaproveitamento de resíduos do País. O lucro dessa operação é usado para financiar ações educacionais
A Lei de Resíduos Sólidos ainda depende de regulamentação para ser aplicada integralmente. Apesar disso, várias empresas se anteciparam à legislação e adotaram iniciativas para dar um destino correto aos resíduos gerados em seu dia a dia. Poucas, no entanto, foram tão longe quanto a Casas Bahia. Desde maio de 2008, a Central de Triagem instalada na área do Centro de Distribuição da rede varejista, localizado em Jundiaí (SP), já processou cerca de 30 mil toneladas de papelão, isopor, plástico e papel.
O material é resultado da coleta seletiva feita na sede da empresa, em São Caetano do Sul, município da Grande São Paulo, e em 100 lojas da região metropolitana de São Paulo. Uma parte significativa dos resíduos é obtida com a operação de logística reversa das embalagens dos produtos entregues na casa dos clientes da Casas Bahia. Agora, o projeto de reciclagem entra em sua fase madura.
"Queremos replicar o projeto em outros locais, começando pelo Rio de Janeiro"
Raphael Klein CEO da Globex
Até o final de junho serão investidos R$ 400 mil para adicionar mais 600 m² de galpões, elevando o total para 2 mil m². Com isso, será possível duplicar para 200 o número de lojas participantes da coleta. A ideia é instalar centrais semelhantes nos demais Estados onde atua. “Queremos replicar esse projeto em outros locais, começando pelo Rio de Janeiro”, afirma Raphael Klein, CEO da Globex, empresa resultante da fusão da Casas Bahia com o Extra Eletro e o Ponto Frio, do Pão de Açúcar. O centro é gerido como se fosse uma unidade de negócio do grupo. “Temos de ser autossuficientes e gerarmos os recursos necessários para eventuais expansões”, afirma Klein.
A única diferença em relação a programas semelhantes é que os lucros obtidos, cerca de R$ 250 mil por mês, são aplicados integralmente em ações sociais apoiadas pelo projeto Amigos do Planeta, da Casas Bahia, cujos motes são a melhoria da educação em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e ações sócio-ambientais. Esse trabalho é feito em parceria com o Instituto Brasil Solidário.
Apesar do cunho eminentemente social, o programa de reciclagem adotado pela empresa seguiu o mesmo ritual de outras tacadas empresariais do grupo. Desde sua concepção até ser colocado de pé, passaram-se 12 meses. Nesse período, o comitê gestor, encabeçado por Klein e formado por 17 funcionários de todos os escalões da companhia, visitou cooperativas do setor e se reuniu com especialistas da área até desenvolver o plano de negócios.
Tudo feito de forma voluntária e nos horários de folga. Essas experiências foram reunidas em um banco de práticas e os recursos resultaram de um empréstimo concedido pela própria Casas Bahia. “Pagamos a dívida em apenas seis meses e, antes mesmo de completar um ano, o Central de Triagem já teve de ser ampliado para dar conta da demanda”, afirma Klein.
Na avaliação da consultora Giovana Baggio, professora de sustentabilidade da BBS Business School, o programa deixa a Casas Bahia em uma posição favorável em relação aos competidores, especialmente no que se refere à lei de resíduos. “Por ter saído na frente, a Casas Bahia terá mais facilidade para se adequar aos dispositivos que serão definidos na regulamentação da lei de resíduos”, diz Giovana.
Pelo lado institucional, a Casas Bahia também está colhendo dividendos. É que algumas das iniciativas apoiadas por ela acabaram se tornando referência para a implantação de políticas públicas. No município de Crateús (CE), por exemplo, foi criada uma Gerência de Meio Ambiente no âmbito da Secretaria Municipal de Negócios Rurais. Em Poço das Trincheiras (AL), o serviço de coleta de lixo foi ampliado. “Nosso objetivo nunca foi fornecer o peixe, mas sim ensinar as pessoas a pescar”, diz Klein.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro