Papel: GCE é primeira marca nacional de sulfite a partir da celulose extraída do bagaço da cana-de-açúcar
A atenção crescente dispensada por empresas e instituições a práticas sustentáveis e ecológicas está criando um mercado promissor, dentro e principalmente fora do Brasil, para papéis reciclados ou produzidos a partir do que seria resíduo em outras indústrias. É o caso do papel feito a partir da celulose extraída do bagaço de cana-de-açúcar, carro-chefe dos negócios da brasileira GCE Papéis, que, por sua vez, é dona da Ecoquality, primeira marca nacional de sulfite produzido a partir dessa matéria-prima.
A empresa, que tem como sócios dois profissionais com mais de 20 anos de experiência em grandes papeleiras, nasceu em 2006. Mas a pesquisa e desenvolvimento da tecnologia de produção de papel a partir de bagaço de cana, em escala industrial, teve início ainda no fim da década de 90. Diferentes fontes de celulose foram testadas em busca do papel "ambientalmente correto" com características de impressão o mais próximo possível daquelas do produto feito integralmente com fibras virgens.
Os testes, conta Luiz Machado, um dos sócios e diretor comercial da GCE, mostraram que o bagaço de cana produzia o melhor resultado. "Antes, fizemos tentativas com resina pet, sisal, entre outros materiais. Mas ou o aspecto era ruim ou a matéria-prima tornava o produto final economicamente inviável", afirma o empresário. "No fim, o bagaço de cana reuniu performance e custo viável." Com o insumo, ainda é possível gerar 65% da energia que é utilizada no processo produtivo.
O passo seguinte, conforme Machado, foi escolher o local de produção do papel "ecológico", que pode alcançar até 93 graus de alvura e sair em versão extra branco. Diante dos elevados custos no país, a GCE optou por arrendar os equipamentos em duas fábricas, instaladas na Argentina e na Colômbia, que juntas tem capacidade de produção de 3 milhões de toneladas por ano. Na unidade argentina, o consumo de bagaço de cana fica entre 400 mil e 450 mil toneladas anuais. Na Colômbia, o volume salta a 1,8 milhão de toneladas.
Por enquanto, a maior parte das 460 mil toneladas produzidas por ano do papel Ecoquality é vendida pela GCE para clientes de outros países, como Estados Unidos e Holanda. No Brasil, ficam cerca de 20 mil toneladas por ano do produto - que tem o certificado ISO 14000 -, compradas por grandes companhias que adotam práticas de sustentabilidade. As multinacionais representam mais de 60% dessa clientela. "Muitas vezes, até para conseguir alguma certificação, as empresas passam a utilizar papel reciclado em documentos ou relatórios", explica Machado. "Mudança de cultura e normas têm impulsionado o consumo."
Embora o consumo de papel reciclado e a taxa de recuperação de papéis recicláveis seja crescente no país - 46% em 2009, ante 38,3% no ano anterior -, o diretor da GCE admite que ainda há um caminho importante a ser percorrido no país no que tange ao uso de papéis reciclados. "Entre as multinacionais, essa cultura é bem mais forte. Mas há mudança de mentalidade no país", reitera. A estimativa é a de que cerca de 80% do papel cut-size (cortado) consumido no Brasil utilize apenas celulose de eucalipto virgem como matéria-prima.
Veículo: Valor Econômico