Plástico ''verde'' ganha mercado e atrai mais investimentos no Brasil

Leia em 5min 20s

Produto que usa o etanol como matéria-prima, no lugar do petróleo, inicialmente visto apenas como uma aposta para um nicho de mercado, cresce em importância com o aumento da demanda, principalmente das empresas de embalagens

 

Em substituição ao petróleo, a cana de açúcar. A migração do combustível fóssil para fonte renovável, inicialmente vista com desconfiança, ganhou novo status no Brasil menos de um ano após o início das operações da primeira fábrica local de resina fabricada a partir do etanol.

 

O produto, impulsionado pela demanda de embalagens alimentícias e de itens de higiene e beleza e pelo forte apelo mundial por sustentabilidade, deixou de ser visto como um concorrente direto do plástico produzido com petróleo e deu origem a um novo mercado, cujo protagonismo tende a ser brasileiro.

 

O primeiro passo foi dado pela Braskem, com a instalação de uma fábrica em Triunfo (RS) no ano passado e anúncio de construção de uma nova unidade de resinas em 2013. A americana Dow Chemical e a belga Solvay também têm projetos anunciados para o Brasil, todos com base na cana-de-açúcar e voltados para nichos de mercado. "Falamos de um novo produto, que precisa cada vez mais ser diferenciado do produto convencional. É um biopolímero que deve ser comparado com outros biopolímeros", destaca o diretor de Negócios Químicos Renováveis da Braskem, Marcelo Nunes.

 

A produção de resinas com uso de fontes renováveis ainda é bastante restrita mundialmente, com capacidade total de pouco mais de 700 mil toneladas anuais, segundo dados da associação europeia que acompanha o mercado de bioplásticos. A Braskem é líder, com capacidade anual de 200 mil toneladas de polietilenos (PE) verdes, volume que, entretanto, representa menos de 1% da produção mundial dessa resina. O volume excedente é concentrado principalmente em países do Hemisfério Norte que utilizam como matéria-prima milho e trigo, entre outros produtos.

 

Até 2015, a produção mundial de biopolímeros deverá ter um salto de 136%, prevê a European Bioplastics, para 1,7 milhão de toneladas anuais. Caso a estimativa seja confirmada, é previsto que o Brasil seja um dos principais destaques dessa projeção.

 

Fábrica. O projeto da Solvay de construir uma linha de produção de PVC a partir de fontes renováveis, interrompido durante a crise econômica iniciada nos Estados Unidos em 2008, previa a produção de 60 mil toneladas anuais de eteno verde, a partir de cana de açúcar, e capacidade praticamente idêntica de PVC.

 

A Dow, cujo projeto também ficou interrompido durante a crise, mantém em sigilo a capacidade da fábrica que construirá no Brasil em parceria com a japonesa Mitsui. O plano é ter uma fábrica com escala mundial, conceito que nos padrões de resinas produzidas a partir do petróleo representa uma capacidade mínima de 300 mil a 350 mil toneladas anuais. O projeto, assim como a unidade da Solvay, será abastecido por etanol, o que deverá ampliar a representatividade do produto extraído da cana de açúcar na fabricação total de biopolímeros.

 

A novidade do projeto da Dow, anunciado no mês passado, será a integração das plantações com a usina e a fábrica de resinas. Modelo semelhante será adotado nos futuros projetos "verdes" da Braskem - a fábrica em operação em Triunfo é abastecida por etanol produzido nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

 

Para atender a unidade, a Dow e a Mitsui construirão uma usina com capacidade de 240 milhões de litros de etanol. "Mas esse volume não atenderá a totalidade da demanda (da fábrica de resina), por isso, o projeto, que ainda está em fase de estudo de engenharia inclui também uma expansão na produção de etanol", diz o diretor de Negócios para Alternativas Verdes e de Desenvolvimento de Novos Negócios da Dow para a América Latina, Luis Cirihal.

 

O objetivo da Dow é, assim como a Braskem, ter um produto viável financeiramente e capaz de abrir novos mercados para a resina "verde". "Falamos de um projeto a níveis competitivos globais e de uma tecnologia com espaço muito grande para avançar", diz o executivo.

 

O avanço virá principalmente do desenvolvimento de novas tecnologias para a rota verde de resinas e das pesquisas sobre a cana-de-açúcar. "A produtividade comercial da cana, que em regiões mais competitivas é de 90 a 100 toneladas por hectare ao ano, poderá atingir 180 a 200 toneladas por hectare ao ano dentro de 10, 15 ou 20 anos", diz o gerente de desenvolvimento estratégico do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Jaime Finguerut. A cana de açúcar, segundo o especialista, tem capacidade para produzir em média o dobro de biomassa do milho, o mais próximo dentro seus concorrentes.

 

Além das perspectivas otimistas, o ambiente atual de preços elevados do petróleo também é um ponto favorável à produção de resinas "verdes". "Acredito que o etanol como substituto da gasolina é perfeitamente viável com o petróleo entre US$ 40 e US$ 60 o barril. Hoje, com a alta de custos do etanol, essa janela está mais para US$ 60", diz o gerente do CTC.

 

Retomada. A produção de resinas a partir de fontes renováveis é o resgate de uma tecnologia presente na indústria brasileira na década de 70 e que teve como principal nome a Salgema, uma das empresas que deram origem à Braskem. Após o movimento de estímulo ao desenvolvimento de álcool no Brasil, com a criação do Proálcool, novas políticas federais em relação ao etanol e o petróleo, juntamente com a trajetória de preços internacionais do petróleo, culminaram com o fim da competitividade da indústria alcoolquímica ao longo da década de 80.

 

Três décadas depois, a disparada do petróleo antes da crise econômica iniciada nos Estados Unidos em 2008 voltou a tornar projetos com base etanol atrativos. Outro ponto determinante para esse movimento foi a disseminação do tema Sustentabilidade entre os consumidores e, por conseguinte, dentro das empresas. "No passado, discutia-se o custo do produto e a possibilidade de existir um prêmio para tal. Agora, sabe-se que é possível aplicar esse prêmio", diz Finguerut.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Kimberly usa menos plástico no Neve

A fabricante de itens de higiene pessoal Kimberly-Clark investiu US$ 6,5 milhões para o desenvolvimento do papel ...

Veja mais
Sacolas para compras, como escolher?

É preciso avaliar os impactos comparativos dos diversos meios para transportar as compras, buscando a soluç...

Veja mais
Veto a sacolinha eleva venda de saco de lixo

Em Belo Horizonte, aumento foi de 15% em média; Jundiaí (SP) aumentou consumo em 20 toneladas por mê...

Veja mais
Brasil está entre os maiores do mundo na reciclagem de PET, aponta estudo

Com as 282 mil toneladas de embalagens pós-consumo que receberam destinação adequada em 2010, o Bra...

Veja mais
Alteração dos hábitos das famílias terá impacto até sobre o petróleo

Seguindo tendência mundial, o Brasil começa a implementar políticas públicas para reduzir o c...

Veja mais
Ceasa inaugura banco de caixas

Unidade com capacidade de esterilizar 500 mil embalagens plásticas mensalmente.   A unidade da Centrais d...

Veja mais
Menos lixo nos aterros

Apenas no primeiro semestre deste ano, o Walmart deixou de enviar aos aterros 56% de todo resíduo sólido g...

Veja mais
Cresce a reutilização de Pet

282 mil toneladas de embalagens pós-consumo receberam destinação adequada em 2010.   Com as ...

Veja mais
Lubrificante ''verde'' começa a ser produzido

Empresa de biotecnologia Amyris anunciou ontem que o produto, que usa a cana-de-açúcar como matéria...

Veja mais