Categoria já aporta recursos de 70 milhões de dólares na Europa e nos Estados Unidos
“Isso vai ser um problema para nós”, disse um executivo de marketing de uma empresa que vende atum depois de dar uma mordida no tomate desidratado com especiarias da foodtech Mimic Seafood. Para a cofundadora da empresa, sediada em Madri, Ida Speyer, foi o melhor elogio que ela poderia receber para o produto que, apesar de parecer atum, não tem nada do mar — exceto por um extrato de alga.
A categoria de substitutos de peixes é só uma fração do mercado de proteína alternativa. Mas as vendas de “frutos do mar” à base de vegetais nos Estados Unidos cresceram 23% em 2020, indo para US$ 12 milhões. Os dados da instituição sem fins lucrativos Good Food Institute, mostrou a Bloomberg, ilustram um setor em franca ascensão. No primeiro trimestre deste ano, por exemplo, o investimento na categoria atingiu US$ 70 milhões — mais do que nos últimos dois anos juntos.
O produto da startup espanhola, chamado Tunato, é fabricado a partir de uma variedade de tomate especial. Ele é cultivado no sul da Espanha e se assemelha ao atum de sushi, em forma e em tamanho, quando fatiado.
Ainda é um segmento pequeno quando comparado ao de carne vegetal nos Estados Unidos – as alternativas à carne bovina, suína e outras teve um 2020 com US$ 1,4 bilhão em vendas. Preocupações com o consumo de carne vermelha, antibióticos na pecuária e mudanças climáticas têm feito mais consumidores a ficarem sem carne pelo menos uma vez por semana.
O peixe, com sua fama de ser saudável para o coração, não tem má reputação – mas os temores da pesca excessiva, consumo de metais pesados e microplásticos, alimentados por documentários como o Seaspiracy da Netflix, estão preparando a mudança.
Além de veganos e flextarianos, os peixes vegetais também são vendidos como opção para grávidas, por exemplo, para evitar a ingestão de mercúrio, ou para um consumidor com alergia a frutos do mar. As grandes corporações já notaram isso.
A gigante Tyson Foods comprou uma participação minoritária na New Wave Foods, fabricante de camarão vegetal, em 2019 — esse ano, a marca anunciou sua nova linha de hambúrgueres e linguiças vegetais. Em março, o grupo tailandês Thai Union, dono da marca Chicken of the Sea, lançou sua linha baseada em plantas — a OMG Meat —, incluindo tortas de caranguejo e hambúrgueres de peixe, com planos para um camarão vegano ainda este ano. O atum não pescado da Nestlé está disponível em partes da Europa, enquanto o varejista sueco Ikea vende caviar vegano, derivado de algas marinhas.
Recentemente, a gestora americana Tiger Global liderou um aporte na foodtech chilena NotCo, que atualmente produz leite, maionese, sorvete e hambúrguer veganos — nomes como Lewis Hamiltons, Roger
Federer e Jeff Bezos também foram atraídos. Os planos da empresa para o segmento de “não pescados” devem ter início no ano que vem, com substitutivo para produtos como atum, salmão e carne de caranguejo. Na NotCo, o que despertou o fundador Matías Muchnick para o segmento foram dados como a morte de golfinhos durante a pesca predatória de atum, que vira um enlatado com metais pesados.
Produtos empanados também estão se proliferando no mercado de carne vegetal com empresas como Beyond Meat e Impossible Foods. Isso porque é mais fácil imitar carnes moídas e temperadas, como hambúrgueres e salsichas, do que cortes de músculos inteiros, como peito de frango e filé mignon — e o mercado de peixes à base de plantas descobriu o mesmo.
“É muito mais fácil recriar um hambúrguer de carne suculento e denso do que um filé de peixe delicado e em flocos”, disse Jen Lamy, gerente sênior da Iniciativa de Frutos do Mar Sustentável do Good Food Institute, à Bloomberg.
Embora as opções no mercado de proteína vegetal cresçam a cada dia, os preços ainda são mais salgados. A chave para essa paridade está justamente no aumento da produção e na chegada a novos mercados. Para David Yeung, o ponto de inflexão deve acontecer daqui a dois ou três anos. Ele é fundador e CEO da OmniFoods, empresa sediada em Hong e conhecida por sua carne de porco vegana mas que agora está iniciando em frutos do mar.
Como esses produtos são originalmente ricos em vitaminas e minerais, as startups veganas precisam garantir que os mesmos nutrientes estejam presentes em suas réplicas. Enquanto a francesa Odontella utiliza algas em seu salmão defumado para garantir ômega 3, a OmniFoods aposta em óleo de canola de boa qualidade chegar ao mesmo resultado.
Se os frutos do mar à base de vegetais mantiverem sua taxa de crescimento, eles podem alcançar a participação da carne vegetal no mercado convencional na próxima década, diz Lamy, do Good Food Institute. A tecnologia “ainda não está lá”, diz ela, mas o setor está progredindo, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico