Celular com dois chips já representa 9% das vendas

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Quando perguntam a Eulália Pereira qual é o número de seu celular, a resposta costuma ser pouco usual: "Qual você quer?" Dona de uma pousada na região de Juiz de Fora (MG), a empresária tem quatro números, um de cada operadora. Esse hábito barateia a comunicação de Eulália com clientes, funcionários e família.

 

Engana-se, no entanto, quem pensa que a empresária carrega o peso de quatro celulares em sua bolsa. Eulália tem apenas dois telefones. Cada um deles é capaz de funcionar com o chip de duas operadoras ao mesmo tempo. "Isso facilita a vida", diz ela.

 

Os aparelhos de dois chips ganharam a preferência da empresária e também de uma boa parcela do mercado brasileiro. Segundo a empresa de pesquisas GfK, a participação desses modelos na venda de telefones móveis aumentou de 0,9%, em abril do ano passado para 9,1% no mesmo mês de 2011.

 

A expansão está relacionada à queda nos preços dos aparelhos. Um modelo que custava R$ 500, há um ano, agora pode ser encontrado no varejo por menos da metade. Recentemente, o grupo Pão de Açúcar fez uma oferta a R$ 99.

 

Com preços mais baixos, os telefones de dois chips caíram nas graças daqueles consumidores que têm uma linha de cada operadora para aproveitar as melhores ofertas de cada uma. Como é mais barato fazer ligações para clientes da mesma empresa de telefonia, disseminou-se entre os brasileiros - especialmente os das classes C e D - o hábito de ter mais de um chip.

 

A consultoria especializada Gartner estima que quase 20% da base de celulares do país seja constituída por assinantes com mais de uma linha. O mercado brasileiro tem 215 milhões de telefones móveis habilitados.

 

Os aparelhos de dois chips começaram a chegar ao Brasil em 2007, mas custavam caro. Porém, alternativas mais baratas inundaram o comércio popular nos anos seguintes, com telefones muitas vezes contrabandeados da China e sem certificação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

 

Eulália comprou dois desses celulares, mas problemas técnicos constantes levaram a empresária a deixá-los de lado. Há pouco mais de um ano, trocou os "xing-lings", como são conhecidos popularmente, por aparelhos de dois chips produzidos no Brasil.

 

Foi nessa época que os grandes fabricantes instalados no país começaram a explorar mais intensamente esse nicho. O movimento se iniciou com marcas menos conhecidas do consumidor, como Huawei e ZTE, mas agora já atrai os principais competidores.

 

"É uma demanda do consumidor. Se você não tem, o fornecedor chinês vai ter e o cliente compra dele. Não tem como segurar", diz Rodrigo Vidigal, diretor de marketing da Motorola.

 

O primeiro celular da companhia com dois chips foi lançado no terceiro trimestre do ano passado. Vidigal avalia, no entanto, que não é só essa característica que atrai o consumidor. "O aparelho tem que ter recursos como internet, tela sensível ao toque, acesso a redes sociais. O dual chip sozinho não faz verão."

 

Nas próximas semanas, chegarão às prateleiras os primeiros celulares da Nokia com dois chips. O modelo mais simples custará R$ 179, segundo Almir Narcizo, presidente da companhia. Para o executivo, esses produtos têm grande potencial de crescimento no Brasil. Narcizo diz não acreditar, no entanto, que a participação deles pode chegar a um patamar como o da Índia, onde os celulares de dois chips representam 50% das vendas.

 

As coreanas LG e Samsung já apostam nesse segmento há alguns anos, mas ampliaram recentemente o portfólio que oferecem. A Sony Ericsson ainda estuda o lançamento de aparelhos com dois chips, afirma o presidente da empresa, Magnus Anseklev.

 

"Os aparelhos com dois chips já são nosso principal item nas vendas de celulares. A procura cresceu muito desde meados do ano passado", afirma Alessandra Shima, gerente comercial do Extra, bandeira do Pão de Açúcar.

 

As redes varejistas têm sido os grandes propulsores das vendas desses celulares. Durante muito tempo, as operadora evitaram oferecer esses produtos, com receio de dividir seus assinantes com a concorrência. Porém, a procura é tão grande que algumas teles mudaram de estratégia. A Oi e a TIM já oferecem modelos de dois chips. A Claro está avaliando a possibilidade de lançar um celular desse tipo antes do próximo Natal.

 

"É uma tendência de mercado. O importante é capturar o máximo do valor que o consumidor quer gastar com serviços de telefonia", afirma Bernardo Winik, diretor de operações e vendas para o mercado de consumo da Claro.

 

A TIM, que aderiu à modalidade em março, oferece três celulares com essa característica. Segundo Rogério Takayanagi, diretor de marketing, a estratégia permite que assinantes de outras operadoras testem os serviços da companhia. "Geralmente, as teles veem os aparelhos de dois chips como uma 'prostituição'. Mas, no fim das contas, o que importa é ter a melhor oferta de serviços", observa.

 


Veículo: Valor Econômico


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