Um fungicida não aprovado nos Estados Unidos e encontrado em suco de laranja vendido pela Coca-Cola naquele país é amplamente usado no Brasil e a maioria das exportações para os EUA provavelmente contém a substância, segundo produtores brasileiros.
"O suco certamente tem" o fungicida, disse Christian Lohbauer, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos, com sede em São Paulo, referindo-se a exportações da última safra.
A descoberta de pequenas quantidades do químico, chamado carbendazim, em suco de laranja nos EUA levou autoridades americanas a iniciarem uma inspeção de sucos vendidos em supermercados e fez o contrato futuro de suco de laranja disparar esta semana.
Os consumidores americanos parecem, por enquanto, não estar muito preocupados. A Coca-Cola Co. afirmou ontem que foi contatada por um "número relativamente pequeno" de consumidores com dúvidas. A empresa voltou a garantir aos consumidores que seus produtos são seguros, dizendo que os níveis de fungicida detectados pelas autoridades do governo não são uma ameaça.
"Os consumidores ficam satisfeitos quando nos ouvem dizer que não há uma questão de segurança com o suco brasileiro que usamos nos nossos produtos e que estamos trabalhando de perto e seguindo as diretrizes" da FDA, agência americana que regula os remédios e alimentos, disse Dan Schafer, disse um porta-voz da Coca.
A Coca e a PepsiCo Inc. são as maiores vendedoras de suco de laranja nos EUA, com uma fatia conjunta de 59% das vendas do produto em varejistas do país nos primeiros nove meses de 2011, segundo o serviço de dados do setor "Beverage Digest".
A PepsiCo, cujos sucos Tropicana e Dole também contêm produto brasileiro, não respondeu ontem a pedidos de comentário sobre se havia testado para detectar o fungicida.
Os EUA proibiram o uso de carbendazim em cítricos em 2009, mas produtores brasileiros continuam a usá-lo, num reflexo da diferença entre padrões internacionais. O Brasil é o maior exportador de suco de laranja do mundo.
A Europa permite que se importe suco que contenha a substância em até 200 partes por bilhão, e o Japão e o Canadá permitem ainda mais. Como só 15% das exportações brasileiras de suco vão para os EUA, os produtores nacionais tendem a seguir os padrões europeus, dizem especialistas locais.
O Ministério da Agricultura afirmou que a quantidade de carbendazim que ele autoriza para produtos exportados segue as diretrizes da Organização Mundial da Saúde.
A Coca não planeja retirar nenhum suco do mercado, disse Schafer. A FDA já afirmou que podem pedir a retirada de suco de laranja do varejo se seus testes mostrarem mais de 80 partes por bilhão.
A Coca não revela quanto do suco que usa em suas marcas vem do Brasil, mas sua principal fonte de suco de laranja vendido nos EUA é a Flórida, disse Schafer.
Veículo: Valor Econômico