Salute! Nosso vinho tem mercado...

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O consumo de produtos de origem brasileira ainda é pequeno, mas apresenta boas perspectivas para o futuro


Por Alan Banas


O bate-papo desta edição desembarca na Região Sul do País, em Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul. Conhecida como uma das mais importantes cidades turísticas da Serra Gaúcha, Bento Gonçalves tem ao longo de sua paisagem belíssimos parreirais. É lá que fica a sede do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), que tem como objetivo o desenvolvimento e a promoção da vitivinicultura brasileira.


Nosso entrevistado, Carlos Paviani, presidente do Ibravin, comenta nas próximas páginas os trabalhos realizados pelo Instituto e as dificuldades de se mudar a cultura de consumo do vinho brasileiro. "A falta de hábito de consumo, ou seja, o consumo eventual na grande parte da população é o principal desafio. Os aspectos sociais e econômicos são os determinantes, mas a cultura de consumir vinho é a mais importante", explica Paviani.


Quer um conselho? Pegue uma taça de vinho e desfrute desse agradável bate-papo!


Qual o papel do Ibravin no setor de vinhos brasileiro? O Ibravin defende somente os interesses dos produtores da Região Sul do País?

O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) foi criado há 10 anos com a missão de desenvolver e promover a vitivinicultura brasileira, fazendo-o de forma participativa, com a fixação de objetivos, estabelecimento de estratégias e execução de ações visando ao fortalecimento do setor, tornando-o competitivo e sustentável. O Instituto foi criado pelas instituições representativas dos produtores de uvas, vinícolas e cooperativas do Rio Grande do Sul, que é o Estado responsável por mais de 90% da produção de vinhos do Brasil. Mesmo tendo nascido gaúcho, o Ibravin sempre coloca como objetivo o desenvolvimento e a promoção da vitivinicultura brasileira como um todo - em todas as suas ações, o Instituto destaca sempre os "Vinhos do Brasil" para o mercado interno e "Wines from Brazil" para o mercado externo.


Como o Ibravin atua junto ao governo na luta pelos interesses do setor?

Temos trabalhado em conjunto com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, Vinhos e Derivados - um órgão consultivo criado pelo Ministério da Agricultura e que integra as entidades representativas do setor vitivinícola de todos os Estados produtores de vinhos do País. Geralmente, nossos pleitos são debatidos com as demais instituições do setor, mesmo que na origem possa haver divergências, buscando o entendimento para que esses pleitos possam ser fortalecidos. Procuramos dialogar com os produtores das diversas regiões e também com importadores nas questões que envolvem o fortalecimento e a organização do mercado.


Quais as principais áreas de vitivinicultura no Brasil? Destaque as mais recentes.

No Rio Grande do Sul, a vitivinicultura partiu da Serra Gaúcha, a grande estrela da vitivinicultura brasileira, pelo volume e pela qualidade dos vinhos que produz, e ampliou-se para a região da Campanha, que fica na fronteira com o Uruguai, entre os paralelos 30º e 50º. Essa é uma faixa considerada ideal para a vitivinicultura: as condições climáticas são melhores que as da Serra Gaúcha. Com o investimento em tecnologia e a persistência e trabalho das empresas vinícolas, muito se tem avançado na produção de uvas européias e vinhos de grande qualidade na região, tornando-a, hoje, a grata surpresa da vinicultura brasileira.


No Rio Grande do Sul, a produção vinícola também cresceu para a Serra do Sudeste, próxima ao extremo sul do Estado, que se caracteriza pela conformação serrana ondulada e altitudes medianas. Nessa região, as temperaturas médias mais baixas e menor quantidade de chuvas criaram boas condições para uma vinicultura de qualidade. Os Campos de Cima da Serra também formam uma nova região produtora, ao lado da Serra Gaúcha, mas ainda a presença das vinícolas é iniciante.


Desenvolve-se vitivinicultura de qualidade também em Santa Catarina, no Planalto Catarinense, que engloba, entre outras, as cidades de Lages e São Joaquim, as maiores altitudes da produção vinícola brasileira. As temperaturas médias mais baixas posicionam o foco na qualidade, especialmente de uvas cabernet sauvignon. Também o oeste do Paraná é uma região que se estabelece como produtora.


Em Minas Gerais, a Região Sul concentra a grande produção vinícola do Estado, onde predomina o cultivo das uvas viníferas americanas, bem adaptadas às condições de clima da região - chuvoso na época de maturação das uvas. Para a elaboração de vinhos tintos, entre outras, produz-se a variedade bordeaux (denominada localmente como folha de figo) e a niágara branca, para os brancos. Lá estão instaladas mais de 30 vinícolas atualmente e existem diversos projetos voltados ao desenvolvimento de vinhos de variedades viníferas.


O Vale do São Francisco está consolidado como uma das maiores regiões vitivinícolas do País, única região do mundo que produz duas safras e meia por ano, respondendo por 95% da produção de uva de mesa no Brasil e pela produção de 5 milhões de litros de vinho por ano. Pernambuco, com o projeto de produção vitivinícola implantado no Estado, se tornou modelo de desenvolvimento para o Nordeste, e o Vale do São Francisco detém, hoje, 15% do mercado nacional de vinhos. Em São Paulo, atualmente há projetos de revitalização da vitivinicultura. A produção vinícola está localizada no município de São Roque, que ficou conhecido como a "Terra do Vinho", quando após sua fundação, os imigrantes italianos e portugueses que lá se instalaram plantaram vinhedos e montaram suas adegas.

 

Qual o Estado brasileiro que mais consome vinho?

O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro que mais consome no Brasil, com um consumo per capita de 8 litros por ano. O consumo da bebida está ligado à cultura do vinho, por isso se explica o Rio Grande do Sul apresentar esse índice. Em São Paulo, por exemplo, onde é mais recente a cultura do vinho, esse índice está acima de 4 litros per capita/ano. No Brasil, o consumo per capita é de apenas 1,8 l/ano. Um bom exemplo, nesse caso, é o mercado americano, que há 30 anos exibia o mesmo índice de consumo que o Brasil apresenta hoje. Por diversas razões culturais, o americano não tinha o costume de beber vinho. Com o trabalho feito nos Estados Unidos, de divulgação, de marketing agressivo das grandes empresas de bebidas e dos produtores americanos, hoje o país apresenta consumo per capita acima de 16 litros ao ano.


O produtor brasileiro tem condições de atender à demanda do mercado interno?

Sim, tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo. Entretanto, sabemos que o vinho é um produto globalizado e o consumidor quer e pode experimentar vinhos de qualquer parte do mundo, com o acesso à extensa variedade de origens, tipos e marcas. Temos dito aos nossos produtores que, hoje, quem produz vinhos deve produzir para o mercado global e não apenas para o mercado local. As trocas comerciais com vinhos estão crescendo anualmente. Se importamos, também podemos exportar. Em 2005, 32% dos vinhos produzidos no mundo eram exportados. Em 1996, esse percentual era bem menor, de 17%.


Quais seriam as principais dificuldades do setor no que diz respeito ao crescimento interno? O que emperra essas mudanças?

A falta de hábito de consumo, ou seja, um consumo eventual na grande parte da população é o principal desafio. Os aspectos sociais e econômicos são os determinantes, mas a cultura de consumir vinho é a mais importante. Para os produtores brasileiros, o fortalecimento da imagem e maior competitividade também são nosso foco de trabalho. E nisso está a questão tributária, que faz com que o vinho, tanto o nacional como o importado, seja caro em nosso País.


Quais as características dos vinhos produzidos no Brasil? No que se destacam quando comparados aos vinhos importados?

Afirmativas genéricas são sempre muito complicadas. Precisamos identificar os produtos e quais os parâmetros que podem ser comparados. Podemos dizer que os vinhos brasileiros, na média, têm vocação para serem consumidos com comidas, harmonizados, exigindo boa acidez e estrutura sem exagerar no teor alcoólico. Nossos espumantes, por sua vez, têm uma das melhores relações custo/benefício do mundo e, por isso, ganham evidência tanto no País como no exterior.


Como o Ibravin trabalha para diminuir ou eliminar o preconceito contra o vinho brasileiro? A que se deve esse preconceito?

Estamos iniciando, neste ano atividades de promoção sob a denominação "Vinhos do Brasil - uma boa escolha" de forma coletiva e com o somatório dos esforços de cada vinícola. Pretendemos num curto espaço de tempo crescer nossa presença no mercado interno, que se manteve estável nos últimos anos. Assim, com informação e maior presença no mercado é possível reduzir o preconceito estabelecido, em grande parte, por falta de conhecimento e atualização do desenvolvimento da qualidade dos Vinhos do Brasil.


A entrada dos vinhos argentinos e chilenos no País ajudou a melhorar a qualidade de nossos vinhos?

Podemos dizer que, de um modo geral, o mercado vem se desenvolvendo qualitativamente, em função da melhora dos vinhos brasileiros e também da entrada de vinhos de qualidade de diversos países produtores. Nossa restrição e cuidado estão, principalmente, com os vinhos de baixo valor, que têm origem no Mercosul e que, com qualidade relativa, não contribuem para a evolução do mercado.


Como está a distribuição dos vinhos nacionais?

Muitos chefs e proprietários de restaurantes se queixam desse aspecto - dificuldade em receber pedidos menores, não há quem venda poucas unidades para quem tem dificuldade de manter um grande estoque, como um restaurante pequeno.

Esse é um aspecto que ainda precisamos desenvolver. Nossas vinícolas, na maioria, são pequenas e familiares, com baixas produções, o que dificulta uma estratégia de distribuição mais forte e uniforme. Identificamos a cadeia foodservice como grande formadora de opinião e consumo do vinho no Brasil e, nos projetos que desenvolvemos para o crescimento e expansão do setor, o foco nos restaurantes e bares será ainda maior a partir de 2009.


O que é preciso para o Brasil se tornar um grande exportador de vinhos?

Estamos trabalhando para configurar o País no mercado internacional como um produtor de vinhos de qualidade. Não está no nosso objetivo o desejo de ser um grande exportador, mas de exportar pelo menos 20% dos vinhos finos e de qualidade que produzimos, para os mercados mais significativos e exigentes do mundo.


Fala-se muito na sofisticação e na modernidade tecnológica das vinícolas brasileiras. O que realmente significa isso?

Significa a implementação de novos sistemas de condução da videira, em 'Y', 'lira' ou 'espaldeira simples'; utilização de poda verde para reduzir a produtividade e aumentar a qualidade e manejar a videira de forma que se obtenha o maior grau de maturação glucométrica e fenólica da uva. Também significa a incorporação de tanques e fermentadores em aço inoxidável com temperatura controlada, uso de leveduras selecionadas e envelhecimento, para os vinhos de guarda da categoria premium e superiores, em barricas de carvalho. As principais vinícolas responsáveis pela elaboração de vinhos de qualidade já dominam e incorporaram essas técnicas.


Desde julho, o produto nacional conta com um selo de controle fiscal. Como essa medida beneficia o setor?

O selo de controle fiscal é para as bebidas populares que imitam o vinho. São as sangrias e coquetéis com vinho. Tais produtos utilizam-se da imagem do vinho para ludibriar o consumidor. Nosso alerta é para que o consumidor conheça realmente o que está consumindo, principalmente quando se tratam de produtos muito baratos.


Qual a porcentagem de vinhos tintos, brancos e espumantes consumidos no Brasil?

Se considerarmos o ano de 2007, para os vinhos finos brasileiros, teremos 53,34% de tintos, 1,24% de rosé, 19,75% de brancos e 25,67% de espumantes.


Os preços dos vinhos nacionais são justos para o mercado brasileiro?

Acredito que temos vinhos com boa relação, qualidade e preço. O que atrapalha é quando se comparam vinhos nacionais com vinhos de diferentes qualidades, de outros países.


Como criar uma boa carta de vinhos no restaurante, incluindo os nacionais?

Hoje já é possível ter uma carta bem diversificada com vinhos brasileiros, seja diferenciando-se os tipos, estilos ou regiões.


Como um restaurante pode harmonizar seus pratos com vinhos nacionais?

Temos uma gastronomia que facilmente pode ser harmonizada com os vinhos do Brasil, pois eles combinam com frutos do mar, carnes e mesmo com os pratos típicos brasileiros. E o melhor: nossos vinhos têm como característica serem apropriados para o consumo com novos pratos, dando a eles mais sabor.


Quais as dicas do Ibravin para os restaurantes comprarem bons vinhos nacionais?

Nossa sugestão é de que não tenham receio de provar ou conhecer os vinhos do Brasil. Temos boas e tradicionais vinícolas, já conhecidas e reconhecidas, e temos também uma dezena de empresas menos conhecidas que estão qualificadas e podem destinar seus produtos para bons restaurantes.


Veículo: Revista Cozinha Profissional


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