Na Pernod Ricard Brasil, subsidiária da multinacional francesa que comercializa 58 marcas de bebidas no País, os efeitos da crise só devem começar a ser sentidos em janeiro de 2009. Dos importados que a empresa colocou no mercado nesta temporada de festas de fim de ano, todos foram comprados com dólar a R$ 1,60. As vendas de produtos como a champanhe Mumm e a vodca Absolut já superam as expectativas, mas incertezas em relação ao próximo ano rondam o escritório da companhia em São Paulo. No início do próximo ano, as compras internacionais passarão a ser impactadas pela desvalorização do real, da libra e da coroa sueca em relação ao dólar, ao mesmo tempo em que as mudanças na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - que terá aumento de 30% -, válidas a partir do primeiro dia do ano, devem pressionar os custos da fabricante.
Para não ser surpreendida pelas dificuldades iminentes, um plano já está sendo desenvolvido na multinacional. Douglas Tsukimoto, diretor de marketing da Pernod Ricard no Brasil, informou que a empresa, além de contar com o gran-de portfólio como aliado, deve aumentar a produtividade, ampliar a distribuição e se aproximar dos clientes para enfrentar a crise. "Vamos calcular o fluxo dos nossos produtos. Evitar venda de acordo com a sazonalidade de dois ou três períodos ao longo do ano. Vamos estar mês a mês com nossos clientes, isso evita grandes descontos. Será uma revisão da nossa visão comercial", disse Tsukimoto. Caso o esforço de redução de custos não consiga dar conta de minimizar o impacto da desvalorização das moedas, a empresa não descarta repassar aumentos aos consumidores também. "Mas vamos buscar alternativas, não necessariamente o consumidor vai estar disposto a pagar mais caro em 2009", disse.
A companhia fechou o último ano fiscal, em junho de 2008, com vendas líquidas de R$ 350 milhões no Brasil.
Parte da estratégia da empresa também é ampliar a presença de suas marcas premium no mercado brasileiro. Segundo Tsukimoto, as bebidas que vinham crescendo nos últimos anos graças ao poder de compra da classe média emergente devem ser mais impactadas pelos problemas da economia. "Os vinhos importados que chegavam ao País a valores próximos dos nacionais devem ser os mais afetados, já que não vamos conseguir manter os preços", disse. O executivo acredita que o dólar deve se estabilizar entre R$ 2,20 e R$ 2,30.
Nos produtos premium, os grandes aliados são os importados. "São produtos que sempre resistiram a grandes crises. São mais blindados em relação a momentos como o que estamos vivendo", afirmou. Em outubro do ano passado a companhia informou que as vendas de importados da empresa no Brasil representavam 5% do total obtido no ano fiscal encerrado em junho de 2007. A meta, segundo a companhia, era alcançar 10% em cinco anos. Com a aquisição da Absolut, em abril deste ano, o objetivo foi superado. Atualmente, 13,9% das vendas da companhia no Brasil são de importados. Para 2009, a grande aposta fica por conta do uísque Chivas. "Crises não afetam vendas de uísques doze anos", disse Tsukimoto. Segundo o balanço da companhia divulgado em junho, as vendas de uísque da empresa no Brasil cresceram 8% no último ano fiscal.
No Brasil, a Pernod possui três fábricas: uma em Rezende, no Rio de Janeiro, para a destilação de vodcas, uma engarrafadora em Suape, em Pernambuco, e uma vinícola no Rio Grande do Sul, onde são produzidos os vinhos Miolo. Estão programados investimentos na vinícola para o próximo ano.
Absolut
No ano fiscal encerrado em junho de 2008, a empresa vendeu 6,5 milhões de caixas de nove litros de bebidas no Brasil. As vendas de Absolut no último ano fiscal alcançaram 11,3 milhões de caixas de nove litros, alta de 13%, no mundo todo. No Brasil, segundo Tsukimoto, as vendas de Absolut crescem cerca de 30%.
Apesar da aquisição ter sido anunciada em abril e formalizada em julho, a Pernod Ricard só assumiu a distribuição da marca no Brasil em 24 de setembro. "Com o nosso portfólio abriu uma série de oportunidades para a marca no Brasil. Do ponto de vista comercial, a Absolut ganha muita força, passa a ter acesso a lugares e regiões onde ainda não chegava. Antes eles atuavam muito concentrados no Rio e em São Paulo", afirmou.
Veículo: Gazeta Mercantil