Quarenta dias depois de a francesa Danone ter anunciado sua entrada no mercado de águas minerais no país, a Nestlé Brasil anunciou ontem a compra das fontes da Água Mineral Santa Bárbara, em Águas de Santa Bárbara, no interior paulista. Mas o que faz as duas maiores empresas de alimentação do mundo mergulharem nesse mercado? Há duas razões básicas: a "horizontalização" da distribuição e o encolhimento dos mercados internacionais.
O primeiro motivo tem a ver com logística. "Vender água não é um negócio muito rentável por conta do transporte. Fica inviável se a distância percorrida for maior que 400 quilômetros", diz Adalberto Viviane, consultor do mercado de bebidas. No entanto, quanto maior a variedade de produtos que uma empresa tiver para transportar de uma única vez, menor seus custos logísticos. Tanto para a Nestlé, quanto para a Danone, a água funciona, então, como um fator de redução de custos.
O segundo motivo é a queda das vendas na Europa e nos Estados Unidos. Segundo o último relatório da empresa suíça, de janeiro a setembro deste ano as vendas de água mineral caíram 3,2%, sem considerar as aquisições. Com estas, a queda foi de 1%.
A economia em retração nos mercados europeu e americano, segundo a própria Nestlé, é a causa dessa diminuição, junto com outro fator inusitado: a percepção nesses países de que a água mineral é antiecológica. O uso do plástico para a embalagem e as emissões de gás carbônico no envase e transporte, segundo os ambientalistas (que pregam o consumo de água de torneira), fazem da água mineral a mais nova vilã da sustentabilidade. Mas, em mercados emergentes, como o Brasil, as vendas da Nestlé, com a marca Nestlé Pure Life, cresceram nos nove primeiros meses do ano acima de 20% em relação a igual período de 2007.
No Brasil, estima-se que cada pessoa beba apenas 125 ml de água por dia, quando o recomendado é no mínimo 1,5 litro. É aí que as empresas vêem oportunidade de crescimento num mercado que, segundo a consultoria Zenith, vende 8,1 bilhões de litros, ou R$ 2,8 bilhões.
Mais da metade desse volume, ou 5,7 bilhões de litros, corresponde ao mercado de galão, que é entregue na casa do consumidor - o famoso "disque água".
É nesse nicho que a Nestlé vai atuar, fornecendo para distribuidores. Parte da água será engarrafada em embalagens de 1 litro e irá para o varejo, somente no Sudeste, com foco no Estado de São Paulo, e outra (cujo tamanho a empresa não revelou) será entregue em galões de 20 litros.
Além disso, o mercado nacional é dominado por empresas regionais. Em cada região há uma marca líder. No mercado paulista, entretanto, a Cristal, da Coca-Cola, tem 40% das vendas, seguida da Minalba, com 20%, da Nestlé, com 10% e Schincariol, com o mesmo percentual.
O investimento estimado na Água Mineral Santa Bárbara é de R$ 100 milhões nos próximos cinco anos, incluindo o valor da aquisição, não foi informado. A Nestlé deverá ampliar e modernizar as linhas de produção e embalagens. A aquisição anunciada ontem, entretanto, ainda deverá ser submetida à autoridade de defesa da concorrência (Cade).
Veículo: Valor Econômico