Beber, seja suco ou cerveja, ficou bem mais caro este ano. Todas as categorias de bebidas - com exceção de água mineral e isotônicos - tiveram aumento acima da inflação este ano, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) de janeiro até o final do mês passado.
Enquanto a inflação do período ficou em 5,99%, vinhos e chope subiram 15,80% e 12,42% respectivamente. Uísque e vodca ficaram 12,23% e 11,46% mais caros. Os sucos de fruta tiveram alta de 8,81% e as cervejas, de 6,19%. Já os refrigerantes estão custando em média 6,56% a mais. E, segundo executivos ouvidos pelo Valor, tanto em dezembro quanto nos primeiros meses de 2009, os preços podem continuar subindo.
"Antes de fevereiro teremos de aumentar os produtos em mais 6%", diz Luís Eduardo Figueiredo, diretor comercial da sucos Jandaia. Ele explica que várias frutas tiveram safra abaixo do esperado, como é o caso do caju - sabor que corresponde a 75% do mercado de concentrados. "A produção de caju este ano está até 40% abaixo do esperado. Além disso, os custos logísticos subiram entre 12% e 15% e o custo de transporte representa de 8% a 10% do preço final do produto", explica.
As cervejas, por sua vez, estão aumentando ainda mais de preço esta semana. A AmBev, que tem 67% do mercado, anunciou reajuste para os supermercados de 5,4%. "Quando a AmBev sobe, depois as outras marcas acabam aumentando preços também", diz Emílio Bueno, presidente da Rede Econ, com mais de 30 lojas em São Paulo.
A Femsa, dona das marcas Sol e Kaiser, informa que não tem reajustes planejados. "Houve sim uma mudança de custos neste ano. Mas o preço das matérias primas caiu na mesma proporção em que o dólar subiu, compensando um pelo outro", diz Paulo Macedo, diretor de relações externas Mercosul da companhia. "O aumento que houve no mercado este ano foi mais preventivo. A indústria está tentando se prevenir no caso de uma alta dos insumos que não houve até agora", afirma. A Femsa, segundo ele, aplicou um aumento diluído durante o ano para repassar "apenas a inflação do ano passado", que ficou em 4,38% segundo a Fipe.
Em 2009, entretanto, as cervejarias deverão importar mais malte que o normal, devido à má qualidade da safra de cevada, de acordo com Euclydes Minella, pesquisador e especialista em cevada da Embrapa Trigo, de Passo Fundo (RS). "Elas terão que aumentar seu gasto em dólar", diz.
Mesmo assim, Macedo, da Femsa, diz que o reajuste da cerveja não se justifica. "A indústria faz contratos de compra de um ano, dois anos e de até cinco anos. Variações cambiais não têm reflexo imediato nos custos como muitos pensam."
No caso de bebidas mais finas, como vinhos e destilados, o aumento tem, sim, a ver com o dólar pois boa parte desses produtos é importada. Alguns fabricantes, como a britânica Diageo, líder global no segmento de bebidas alcoólicas premium, tentam trabalhar com uma cotação menor da moeda americana que a praticada pelo mercado. A companhia divulgou esta semana que está trabalhando com o dólar a R$ 1,80, em uma tentativa de não assustar os consumidores neste final de ano.
Já a tradicional cachaça, que ficou 14,01% mais cara para o consumidor, sofreu impacto do novo regime tributário adotado no estado de São Paulo, segundo Cesar Rosa, presidente da Tatuzinho e também presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac). "Já era previsto que o produto iria subir com a substituição tributária. É reflexo da sonegação que existia."
Veículo: Valor Econômico