Em represália à decisão da Comissão Europeia de taxar a importação de painéis solares chineses, governo da potência asiática abriu investigação sobre possível concorrência desleal nas importações da bebida da UE
A China abriu uma investigação para analisar a concorrência desleal nas importações de vinho da União Europeia (UE), depois que o bloco anunciou taxas de importação aos painéis solares chineses. As medidas geram o temor de uma guerra comercial entre dois dos maiores mercados do planeta.
“O governo chinês começou um procedimento de investigação antidumping e antissubsídios dos vinhos da União Europeia”, informou Shen Danyang, porta-voz do ministério chinês do Comércio.
A agência oficial do país, Xinhua, já havia advertido que as taxas “punitivas” impostas pela UE aos painéis solares não gerariam “uma resposta amistosa por parte da China” e que poderiam, inclusive fazer, “descarrilar” as relações bilaterais.
Esta preocupação também existe entre os europeus, já que a Alemanha, maior economia do bloco, considerou ontem que a Comissão Europeia (órgão executivo da UE) havia cometido um “grave erro” ao impor maiores impostos à China. “A Alemanha sempre disse claramente que nosso governo prioriza o diálogo e não o confronto”, declarou o ministro alemão da Economia, Philipp Rösler, à rede de TV ARD.
Pequim já havia tomado medidas contra produtos europeus em outras ocasiões, como respostas a investigações ou a aumento de taxas para os produtos chineses. Em 10 de maio, a China começou uma investigação sobre os tubos sem emenda importados da UE, Japão e EUA, dois dias depois da Comissão Europeia ter estudado uma primeira proposta de impor taxas de importação aos painéis solares da China.
“O conflito está aumentando” e em parte isso se deve ao excesso da capacidades produtiva da China em certos ramos, afirmou Yao Wei, economista do banco Société Générale, em Hong Kong.
Uma escalada dos conflitos econômicos poderia ter consequências imprevisíveis, já que a UE é o mercado mais importante para exportações chinesas, ao mesmo tempo em que a China é o segundo mercado mais importante da UE(depois dos EUA).
O presidente francês, François Hollande, pediu ontem uma reunião dos 27 Estados da UE para ajustar os pontos de vista nas negociações comerciais com a China.
O novo ciclo de hostilidades comerciais começou coma decisão europeia de aumentar as taxas aos painéis solares chineses, que, segundo a Comissão de Bruxelas, ameaçam o setor na Europa ao vender esses produtos com preço até 88% inferior. Em uma primeira fase, até agosto próximo, os impostos serão de 11,8%. A partir de então - se não houver um acordo - passarão a uma média de 47,6%.
“A China se opõe firmemente a pressões exercidas pela Europa através de impostos injustos a produtos fotovoltaicos chineses”, afirmou Shen Danyang.
“Isso se parece cada vez mais com uma guerra comercial”, comentou Tao Jingzhou, do escritório de advocacia Dechert LLP China. Segundo o analista, a tática adotada pela China pode ser improdutiva para a sua própria economia, amenos que “as relações de força” entre os 27 membros da UE se modifique. A Comissão Europeia adotou a decisão contra a vontade da Alemanha e de outros 17 países.
Não existem subsídios, reage a Comissão Europeia
“Estamos convencidos de que não há dumping ou subsídios às exportações de vinhos europeus à China”, disse o porta-voz da CE, Olivier Bailly, à imprensa. “Tomamos nota do anúncio da China. Consideramos que é um anúncio importante ao qual teremos que responder”, acrescentou.
Segundo Roger Waite, porta voz do comissário europeu de Agricultura, “há subsídios para a produção de vinho na Europa, mas não para as exportações”.
AChina absorveu11,4%das exportações de vinhos da União Europeia em 2012, por um valor de 763 milhões de euros, segundo dados da Comissão. Os principais exportadores europeus ao mercado chinês são França (546 milhões de euros),Espanha (89 milhões) e Itália (77 milhões).
Veículo: Brasil Econômico