O brasileiro, que viu o bolso encolher com inflação em alta e mais dívidas para pagar, compra menos cerveja e refrigerante. Mas bebe mais suco pronto, chá, água mineral e vodca.
No varejo, segundo dados da consultoria Nielsen, as vendas de suco pronto, em volume, cresceram 10,5% no primeiros oito meses de 2013, em relação ao mesmo período de 2012. A expansão para chá líquido foi de 10,4%, e o de água mineral, 9,8%. Essas categorias já vinham crescendo em 2012.As vendas de refrigerantes recuaram 4,3% até agosto. A sua produção, segundo o Sicobe (sistema de controle da Receita Federal), encolheu 3,7% em 2013.
"Suco cresce a cada ano, [com o consumo] ligado a novos hábitos e independe de pressão inflacionária", disse Fabio Gomes, analista da Nielsen, em evento na Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em outubro. Produtos com apelo saudável, práticos e com maior valor agregado são tendências identificadas pela Nielsen no consumo do brasileiro.
Na cesta de bebidas alcóolicas, a cerveja acentuou a queda nas vendas, em volume: 1,2% em 2012 e 3,9% entre janeiro e agosto de 2013. A vodca continuou crescendo. E o uísque inverteu a tendência - depois de crescer 10,4% em 2012, o volume caiu 2,1% em 2013.
Segundo a Diageo, dona das marcas líderes no país, Smirnoff (vodca) e Red Label (uísque), o brasileiro vem sofisticando o consumo de bebidas destiladas. "Em cinco anos, o mercado de uísque cresceu 60% em valor, e o de uísque importado dobrou de tamanho", diz Álvaro Garcia, diretor de uísque escocês da Diageo. Ele diz que o brasileiro procura garrafas "premium", e os segmentos que mais crescem são os de bebidas com mais de 12 anos. O mesmo acontece com a vodca. Marcas como Cîroc, cuja garrafa custa mais de R$ 100, têm crescimento expressivo.Em 12 meses até novembro, o mercado de vodca cresceu 15%, para R$ 1,7 bilhão, e o de uísque, 11%, para R$ 2 bilhões, diz Garcia.
A venda de água engarrafada mineral aumenta há três anos no país. Apenas no primeiro semestre, as vendas de água no varejo cresceram 14,8% em comparação com 2012, para R$ 1,56 bilhão. Stephanie Biglia, analista da Nielsen, disse em setembro que os investimentos das fabricantes em novas embalagens e tamanhos e também em mídia fizeram crescer a exposição da categoria nos supermercados e entre os consumidores. A Brasil Kirin, por exemplo, dona da marca Schin, aumentou em 60% a verba para a água em 2013.
A queda na produção de refrigerantes em 2013 não é uma surpresa. Em entrevista ao Valor em novembro, o mexicano José Ramón Martínez, presidente da Femsa no Brasil, disse que tanto as vendas para "ocasião futura de consumo" (supermercado) como as de "consumo imediato" (bar e restaurante) desaceleraram. Ele atribuiu o desempenho do setor às condições macroeconômicas do país.
O volume vendido pela Coca-Cola, considerando todas as engarrafadoras no país, caiu 1% no terceiro trimestre de 2013. A queda, segundo a empresa, foi puxada por um ambiente macroeconômico em deterioração no Brasil. A concorrente PepsiCo viu o volume vendido no Brasil cair "dois dígitos" no segundo trimestre de 2013, frente a igual período de 2012.
Em 2012 a Femsa percebeu que a economia brasileira apontava para uma desaceleração, mas a empresa teve certeza no segundo trimestre de 2013. Até então, a Femsa visualizava uma queda pontual no consumo - tanto que produziu uma cota para o Carnaval esperando um nível de consumo que não aconteceu. Ficou estocada. Decidiu, então, apostar em produtos mais baratos: latas pequenas, de 250 ml, em vez das tradicionais (355 ml), e em garrafas retornáveis, ao invés de PET.
O mercado fraco do ano passado abriu oportunidades de aquisições. A Femsa, com sede no México, é a maior engarrafadora da Coca-Cola no mundo e também domina o mercado no Brasil. Comprou em 2013 a Companhia Fluminense de Refrigerantes (CiaFlu) e a Spaipa. A engarrafadora chilena Andina também foi às compras e ficou com a Companhia de Bebidas Ipiranga.
Veículo: Valor Econômico