Com temperaturas recordes e baixo nível de chuvas, o verão brasileiro está fazendo as engarrafadoras de água mineral revisarem para cima suas estimativas para o ano. O setor, que se preparava para uma expansão de 20% das vendas por causa da Copa do Mundo, agora trabalha com possibilidade de crescer até 40% em relação à 2013. As vendas neste ano, até agora, estão 30% acima do registrado no mesmo período do ano passado.
"Esse calor foi uma boa surpresa. E se as chuvas de março forem fracas, nosso ritmo de crescimento poderá ser ainda maior", diz Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Água Mineral (Abinam).
Não é apenas a sede que tem puxado as vendas do setor. A compra de água mineral também está sendo impulsionada pela falta de água potável ocasional em algumas localidades e também pelo uso maior do produto em hábitos como cozinhar. "Quando os reservatórios ficam muito baixos, a água da torneira fica com um gosto mais forte por causa do tratamento químico. Ainda é uma água potável, mas que pode alterar o sabor do café, por exemplo", explica.
No ano passado, as vendas da indústria de água mineral no Brasil cresceram 14,5%, para R$ 2 bilhões. Segundo Lancia, nos anos anteriores, o setor vinha avançando a um ritmo menor, entre 9% e 10% ao ano na média.
Fora o efeito extraordinário do calor excessivo, a aceleração das vendas de água mineral no país ocorre por mudanças de comportamento do consumidor, que busca hábitos mais saudáveis. "Quantas pessoas você conhece que deixaram de tomar o refrigerante tradicional, passaram a tomar o refrigerante diet e agora migraram para água mineral?".
Apesar do crescimento forte da demanda, não há risco de desabastecimento do produto, garante Lancia. Tampouco há uma pressão para aumento de preços acima da inflação por parte dos fabricantes. Assim como a demanda, a oferta também cresceu. "25 anos atrás, um garrafão de água de 20 litros custava o mesmo que um butijão de gás. Hoje, custa um terço", compara.
A capacidade instalada do setor hoje é de quase três vezes a demanda. Além disso, o mercado é bastante competitivo e pulverizado, com forte concorrência entre as marcas, diz a Coca-Cola Brasil, dona da água Crystal.
Não significa dizer que, para o consumidor, a água mineral não esteja mais cara nesse verão. "A indústria não tem aumentado os preços, mas é claro que os vendedores aproveitam oportunidades para cobrar mais. A ideia é se capitalizar para enfrentar as estações frias", diz o empresário Flávio Aragão, dono da Bioleve, fabricante de águas, refrigerantes e sucos, de Lindóia (SP). "Em algumas praias, o preço da água ao consumidor chega a subir 50%", diz Aragão.
Segundo o empresário, as vendas Bioleve na estação mais quente do ano costumam ser 30% superiores as dos meses da baixa estação. No entanto, este ano, estão 40% maiores, por causa do calor.
Para a Coca-Cola Brasil, as temperaturas altas em grande parte do país e as poucas chuvas formam um "cenário favorável", mas ainda é cedo para avaliar o impacto nas vendas especificamente por causa do clima.
A água mineral está presente em pouco menos da metade dos domicílios brasileiros. O consumo per capita no país, de 55 litros por ano, ainda é considerado baixo. Na Europa, a média de consumo por pessoa é de 140 litros por ano, segundo a Abinam.
Nas categorias de produtos com até 9,9 litros, a consumo de água mineral por habitante no Brasil saltou de 20 litros por habitante ao ano em 2010 para 25,34 litros por habitante ao ano em 2012, um aumento de 26,5%, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes (Abir), fornecidos pela Coca-Cola.
Veículo: Valor Econômico