A fabricação de cerveja no Brasil avançou 14,75% no mês de maio na comparação anual, de acordo com o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), da Receita Federal. Trata-se do quarto mês de alta consecutiva na produção do setor, beneficiado este ano pelas altas temperaturas e pela Copa do Mundo.
O desempenho é forte, mas ocorre sobre uma base de comparação fraca. É que a produção de cervejas se recupera após encolher 2% em 2013, que marcou a primeira retração do setor em quatro anos.
Até agora, apenas o mês de janeiro apresentou queda, de 2,4%, em relação ao mesmo período de 2013. Com o Carnaval tardio, o desempenho de março foi o recorde no ano, com avanço de 23,74% na comparação com igual período de 2013.
Catarina Pedrosa, analista que acompanha os papéis da Ambev no Banco Espírito Santo (BES), diz que é possível que o primeiro e o segundo trimestre sejam mais fortes em 2014, quando tradicionalmente isso ocorre no primeiro e no quarto. "Além da [expectativa com a] Copa, tivemos um verão muito quente e até agora o clima permanece seco", afirmou.
Apesar da melhora no desempenho, há incertezas no setor por conta das mudanças na tributação das bebidas frias, categoria que inclui cervejas e refrigerantes.
A decisão do governo federal de postergar para setembro o aumento dos impostos para o setor - depois de um inesperado anúncio de que haveria reajuste antes da Copa -, não reduziu a impressão de analistas e investidores de que o cenário tributário pela frente é nebuloso.
Representantes das fabricantes de bebidas e dos bares e restaurantes têm dito que o diálogo com o governo "evoluiu", existe abertura para elaborar um "novo sistema de tributação" para o setor e que isso seria benéfico para "ambas as partes".
O argumento das empresas é de que o atual sistema tem impactos negativos na inflação. Além disso, o governo poderia obter a mesma arrecadação com o aumento dos volumes da indústria, que não precisaria elevar seus preços.
Mas esse discurso não é novo, pelo contrário. Sempre foi o argumento do setor para pleitear redução - ou, pelo menos, o não aumento - dos impostos.
A dúvida agora é se o governo realmente passou a concordar com essa visão e se estaria mesmo disposto a abrir mão de receita no curto prazo. Afinal, o peso das bebidas no IPCA não é tão grande assim - 0,71% de refrigerante e 0,39% de cerveja - e há uma crescente pressão de entidades que pregam os malefícios do consumo desses produtos à saúde.
Um grupo de trabalho foi formado por representantes das empresas e do governo e deve apresentar uma proposta para um novo modelo de tributação do setor. De concreto, até agora, há apenas decisão do governo em parcelar o aumento de setembro em três vezes. A "visibilidade dessa política [de tributação do setor] permanece limitada", disse o Bank Of America Merrill Lynch (BofA), em relatório recente.
Em maio, também houve alta na produção de refrigerantes, que cresceu 3% na comparação com o mesmo período de 2013. Em abril, a produção havia recuado 2,8%.
Veículo: Valor Econômico