O argentino Hernan Marina era diretor de vendas da PepsiCo para a América Latina quando decidiu se aventurar em outra área, a de produtos. Há sete anos, o executivo baseado em Miami começou a fazer experimentos em sua casa, e a fabricante americana de alimentos e bebidas investiu em sua ideia. O projeto funciona como uma "startup" dentro da companhia.
Uma equipe de 12 pessoas dedicadas exclusivamente ao projeto, mas com acesso à infraestrutura da PepsiCo, desenvolveu fórmulas líquidas e em pó, envoltas em cápsulas, e uma garrafa reutilizável adaptada para preparar bebidas com água. Batizado de Drinkfinity, o sistema foi lançado semana passada no Brasil, primeiro país a receber a novidade, que depois chegará a outros mercados.
Segundo Marina, não há, no momento, planos para produzir refrigerantes como a Pepsi em cápsulas - pelo menos no âmbito da Drinkfinity, cujo foco são as bebidas não carbonatadas e com proposta funcional, com vitaminas e eletrólitos, por exemplo. Não está descartada, porém, a exploração da categoria no futuro. "Nós gostamos de pensar em Drinkfinity hoje como a ponta do iceberg. As possibilidades são enormes, porque podemos fazer qualquer tipo de bebida nessas cápsulas". O isotônico Gatorade, pertencente à PepsiCo, usou a tecnologia durante a Copa do Mundo este ano. A marca, patrocinadora da seleção brasileira de futebol, desenvolveu fórmulas individuais para os jogadores do time, conforme suas necessidades.
Principal concorrente da PepsiCo, a Coca-Cola Company tornou-se este ano a maior acionista da Keurig Green Mountain, líder no mercado americano de café em cápsulas. As empresas também fecharam acordo para desenvolver um sistema para o preparo de bebidas frias, inclusive refrigerantes, em máquinas domésticas, como a de espresso. A solução caseira é uma das estratégias da líder global em refrigerantes para tentar reverter a queda nas vendas da categoria nos Estados Unidos. No Brasil, o mercado ainda cresce, mas em ritmo menor que o de bebidas sem gás. A fabricante americana de eletrodomésticos Whirlpool lançou, há três meses, uma máquina da Brastemp que prepara dez tipos de bebidas a partir de cápsulas, como chá, energético, refrigerante, café e chocolate quente.
A garrafa e as cápsulas de Drinkfinity serão vendidas apenas pela internet, canal novo para a PepsiCo no Brasil. O kit inicial, com um recipiente de 700 ml e dez cápsulas de 55 ml, custa R$ 90. Cada cápsula prepara 290 ml de bebida. Uma caixa com cinco cápsulas sai por R$ 15. Segundo Marina, quando as vendas foram abertas, na terça-feira, todo o estoque inicial dos kits foi vendido em dez horas. Ele não informou a quantidade comercializada. O Drinkfinity é importado de Porto Rico, onde a primeira linha de produção foi montada, mas há planos de fabricar localmente para atender o Brasil.
Segundo o executivo, a empresa testou quase mil embalagens, incluindo diversos tipos de cápsulas, caixinhas e garrafinhas. "Queríamos manter os ingredientes na melhor forma possível", afirma. As vitaminas e sais minerais vêm em pó, enquanto saborizantes, aromas, adoçantes e corantes são apresentados na forma líquida. "Não há nada como isso no mercado hoje", diz. Para preparar as bebidas, é preciso colocar a cápsula em um compartimento superior da garrafa. Ao fechar a tampa, o conteúdo é injetado com pressão na água, misturando-se automaticamente. A ambição é que a Drinkfinity se transforme na principal maneira de o público se hidratar. O público-alvo, segundo Marina, são homens e mulheres de 25 a 35 anos de idade.
O produto busca atender tendências de consumo como a personalização e a possibilidade de escolher o que beber. "É uma mudança de mentalidade em como tratamos os consumidores, mais para um ponto de vista de usuários. Em vez de pensarmos no consumo em um único momento de uma bebida particular, precisamos pensar nas pessoas que se tornam usuários e adotam nosso sistema", diz o executivo.
Após desenvolver uma linha de produtos, a Drinkfinity iniciou no ano passado uma fase "beta", com um grupo de 50 consumidores. A maioria era formada por brasileiros que moram em São Paulo, e outra parte eram americanos. De lá para cá, a garrafa e as cápsulas passaram por mudanças, que originaram a versão que acaba de chegar ao mercado. "Nós tínhamos 60 fórmulas e fomos refinando para ver qual deveria ser a linha inicial de lançamento", diz Marina. A interação com esse grupo continua, e novas fórmulas devem ser lançadas nos próximos meses. Segundo o executivo, a ideia é ter novas garrafas, acessórios e bebidas, que podem ter uma faixa de preço diferente.
Os brasileiros que testaram o produto o bebiam em substituição a água, bebidas a base de suco e energéticos, categorias nas quais a PepsiCo já atua com outras marcas. "Para a PepsiCo, nós achamos que é um negócio incremental, porque interage com os consumidores em alguns casos nos quais não estavam antes", diz Marina.
Veículo: Valor Econômico