Analistas estimam que será necessário desembolsar até US$ 73 bilhões para adquirir fabricante. No ano passado, segmento movimentou US$ 460 bilhões
A possível compra da produtora de destilados Diageo pelo fundo brasileiro de private equity 3G Capital gerou dúvidas entre analistas do setor. Apesar do boato sobre a possível oferta ter motivado a alta de 7% nas ações da Diageo na Bolsa de Londres nesta segunda-feira (8), a compra exigiria uma alavancagem grande por parte do fundo, dizem analistas. A britânica Diageo é líder mundial no segmento de bebidas destiladas e no Brasil ocupa a terceira posição no ranking, segundo a consultoria Euromonitor. De acordo com a coluna Radar, da Revista Veja, os estudos de uma oferta pela Diageo estão em estágio inicial.
Segundo analistas da gestora de ativos Jefferies, a operação seria superior a todas as aquisições anteriores do fundo 3G. A equipe do banco estima que, para efetuar a compra, seria necessário dispor de um capital de US$ 73 bilhões, assumindo um prêmio de 30% em relação ao preço das ações da Diageo negociadas em Londres e uma alavancagem de seis vezes.
"As chances no curto e médio prazo do 3G adquirir a Diageo parecem mínimas. Com vendas estimadas em US$ 64 bilhões, a Diageo seria muito maior globalmente do que qualquer acordo feito pelo 3G", acrescentou o analista sênior de bebidas alcoólicas da Euromonitor, Jeremy Cunnington.
Ele observa que um possível plano do fundo de private equity para a gigante AB Inbev, controladora da Ambev, assumir as operações de cerveja da Diageo não fariam sentido, já que essa operação é fundamental para o crescimento da fabricante britânica de destilados na África.
"Há também a questão cultural, porque a maior parte dos negócios da Diageo é menos sobre corte de custos [forte do 3G] e mais sobre o desenvolvimento e investimentos de longo prazo no desenvolvimento de marcas e mercados", pondera o especialista se referindo as diferenças nos modelos de negócios dos dois grupos.
Para os analistas do Jefferies, o mais provável é que o 3G avalie apoiar a Diageo em uma investida por parte da AB InBev, na qual os sócios do 3G têm grande participação. Assim, as empresas poderiam trabalhar em parceria para vender cervejas e destilados.
A Diageo é dona da marca de uísque Johnnie Walker, da vodka Smirnoff, da cerveja Guinness e da cachaça Ypióca.
No ano passado as vendas de destilados somaram US$ 460 bilhões no mundo e US$ 15 bilhões no Brasil. Até 2019 a previsão da Euromonitor é que esse mercado cresça 13,6% e 16,8%, respectivamente.
Procurada pela agência de notícias Reuters, a Diageo se recusou a comentar a notícia e a AB InBev, sediada na Bélgica, não estava disponível imediatamente para comentar.
Os analistas do banco Bernstein lembraram que a AB InBev já foi alvo de rumores de que estaria analisando a compra da cervejaria SABMiller. Por ser menor que a SABMiller, o pagamento do acordo com a Diageo poderia ser mais fácil e oferecer oportunidades de melhoria das margens por meio de cortes de custos. A venda de partes da Diageo também ajudaria a repagar dívidas.
Veículo: DCI