São Paulo - A cerveja artesanal já ganhou a preferência do consumidor e deve somar cerca de 1000 fábricas ao final do ano que vem. A previsão é da Associação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Abracerva).
Atualmente, são 650 cervejarias registradas no Brasil, alta de 25% em relação ao final de 2016, de acordo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que precisa autorizar este tipo de operação.
Segundo o presidente da Abracerva, Carlo Lapolli, a indústria está concentrada, sobretudo, nas regiões Sul e Sudeste, mas já há uma movimentação também no restante do País. "Ainda é um mercado de nicho, mas com um público muito fiel e em crescimento", afirma Lapolli.
Entre as questões que atrapalham o setor está o preço do produto, em razão do complexo sistema de tributação, que varia muito conforme cada região, assinala o dirigente. A carga de imposto sobre um mesmo produto pode ser de 35% em um estado, mas saltar para até 80% em outro. Lapolli cita que uma mesma cerveja pode custar, em Santa Catarina, R$ 15, enquanto no Distrito Federal, entre R$ 25 e R$ 30.
Uma das medidas esperadas pelo setor para alavancar a indústria é a perspectiva da entrada do segmento no regime tributário do Simples, incentivando a formação de novos empreendedores. Lapolli estima que cerca de 10% das fábricas atualmente instaladas - que produzem entre 10 e 15 mil litros ao mês - poderiam optar pelo Simples.
"Além da questão do tributo, o preço é alto pela falta de uma escala maior de produção, o que impede uma maior margem de negociação para a redução dos preços dos insumos usados na fabricação da cerveja", explica.
O setor ainda carece de dados estatísticos, como o total faturado e produzido, mas calcula-se que ao menos 1% a 1,5% do mercado cervejeiro nacional esteja concentrado nas artesanais. Como comparação, nos Estados Unidos, a participação atinge cerca de 18%, com 5 mil cervejarias, conta o dirigente.
Uma das características do mercado norte-americano é de que 40% das fábricas comercializam a bebida no próprio local em que são produzidas. Uma das tendências que podem ajudar a alavancar o setor no Brasil, projeta a Abracerva.
Localizada em Tijucas (SC), a Sunset Brew começou a operar em 2014, com um investimento de R$ 5 milhões. Os recursos partiram dos três sócios da empresa. Junto à fabrica, às margens da BR-101, a cervejaria tem uma loja onde os clientes podem experimentar e comprar as bebidas, que saem, ao consumidor final, a um preço entre R$ 18 e R$ 25.
Um dos sócios, Eduardo Petry, diz que eles buscaram inspiração para o projeto em Londres, e que pesquisaram as condições logísticas e de incentivos em mais de 30 cidades antes de concretizar o investimento. "Havia a preocupação com as condições econômicas, mas o Brasil sempre foi assim, com altos e baixos", diz ele. "Agora, com os resultados aparecendo, já conseguimos acessar outras linhas de financiamento, até para expandir o nosso negócio".
Segundo Petry, a produção atual é de 30 mil litros por mês, porém a capacidade poderia ser ampliada, facilmente, a 90 mil litros na unidade. "O caminho de crescimento da cerveja artesanal é sem volta, com cada vez mais consumidores percebendo o valor agregado da bebida", ressalta.
Oportunidades
Outra empresa que investe para crescer em meio à ascensão do mercado é a catarinense Schornstein, que aportou um total de R$ 7 milhões nos últimos dois anos para ampliar sua capacidade produtiva. Os recursos foram para a inauguração de uma fábrica, em Pomerode, próximo a Blumenau.
De acordo com o diretor da Schornstein, Adilson Altrão, o investimento foi realizado para fazer frente ao aumento da demanda. "O padrão de paladar do brasileiro vem mudando. O consumidor está trocando as cervejas de milho e arroz pelas artesanais", observa.
A produção da empresa saltou de 20 mil litros, há quatro anos, para 200 mil.
"Podemos chegar a 300 mil litros em um ano ou um ano e meio", antecipa Altrão. O faturamento da Schornstein em 2017 deve chegar a R$ 20 milhões, uma alta de 32% em relação ao ano passado.
Apesar do avanço, o preço da bebida ainda é um limitador para a expansão desse mercado, dificuldade que aumentou com a recessão econômica no País, nos últimos dois anos, conforme a avaliação dos representantes do setor.
"Ainda temos muito para crescer, mas sabemos que isso virá das classes A e B", finaliza Lapolli, da Abracerva.
Fonte: DCI São Paulo