Enquanto a Ambev enfrenta dificuldades para recuperar participação no mercado de cerveja no Brasil, Heineken e Grupo Petrópolis avançam. Adotando uma política de preços mais agressiva, a dona da cerveja Itaipava cresce mais rapidamente sobre as concorrentes multinacionais, de acordo com dados mais recentes da Nielsen, aos quais o Valor teve acesso.
Os dados divulgados em meados de janeiro, com números de dezembro, revelam que a Petrópolis fechou o mês com 15,2% de participação de mercado, comparado a 14,7% em dezembro de 2018. No acumulado de 12 meses de 2019, a Petrópolis atingiu 14,6%, com ganho de 0,6 ponto percentual em relação ao ano anterior.
A Heineken atingiu 21% do mercado em dezembro, ante 20,1% alcançados em dezembro de 2018. No ano, a empresa atingiu 20,6%, versus 19,9% no ano anterior.
A Ambev manteve a liderança, com 59,4% em dezembro de 2019, queda de 2,3 pontos percentuais. No acumulado de 12 meses, a fatia é de 60,8%, ante 62,3% em 2018.
Para o Bradesco BBI, essas mudanças são resultado de uma prática de preços mais agressivos por parte da Petrópolis e da decisão pela Heineken de investir mais em cervejas de preço mais alto, deixando de lado marcas mais baratas. Os analistas Leandro Fontanesi, Tiago Mello e João Grandi, do Bradesco BBI, reuniram dados on-line de preços de cerveja de seis grandes varejistas no Brasil desde julho de 2018. Os supermercados representam em torno de 40% do volume de cerveja no Brasil.
O banco constatou que, depois que a Ambev reajustou preços no terceiro trimestre, o preço médio ponderado semanal de cervejas da Ambev caiu 3,6% no quarto trimestre em relação ao terceiro trimestre. No mesmo período, os preços médios da Petrópolis caíram 4% e os da Heineken subiram 15%. Os analistas consideram ainda que a competição ficou mais dura para a Ambev, com Heineken e Petrópolis ampliando a capacidade de produção em 2020.
A Petrópolis investiu R$ 1 bilhão no ano passado para instalar uma fábrica em Minas Gerais, com capacidade para produzir 9 milhões de hectolitros de cerveja por ano. A intenção da companhia é fortalecer a sua atuação na região Sudeste, onde tem menos penetração.
A Heineken também fez investimento de quase R$ 1 bilhão para dobrar a capacidade de produção da sua principal marca, a Heineken. A companhia, no entanto, tem enfrentado dificuldades na distribuição de suas bebidas.
Desde que comprou a Brasil Kirin, em 2013, a Heineken tenta, sem sucesso, pÒr fim ao acordo de distribuição que mantém com a Coca-Cola, um contrato com vencimento em 2022. A intenção da Heineken é aproveitar a rede de distribuidores de bebidas da Brasil Kirin para fazer também a distribuição das marcas da Heineken.
Heineken e Coca-Cola já se enfrentaram em uma arbitragem. No fim de 2019, o juiz da câmara de arbitragem deu ganho de causa aos distribuidores da Coca-Cola. Agora, a Coca-Cola Brasil e seus distribuidores travam na Justiça um briga com a Heineken, acusando a empresa de não cumprir a obrigação contratual relacionada à distribuição exclusiva de bebidas alcoólicas, assinada em 2002.
O acordo especifica que o portfólio atual (e futuro) de bebidas alcoólicas da Kaiser (subsidiária da Heineken, adquirida em 2010 da Femsa) teria que ser obrigatoriamente distribuído pelas engarrafadoras da Coca-Cola no Brasil até 2022. A Coca-Cola acusa a Heineken de ter usado uma empresa existente apenas no papel ("paper company") para comprar a Brasil Kirin em 2017, ignorando a exclusividade do contrato. As engarrafadoras da Coca-Cola requerem uma compensação monetária e a dissolução da compra da Brasil Kirin.
Na visão de um consultor, que prefere manter seu nome em sigilo, a Heineken enfrenta dificuldades para administrar seu portfólio de marcas, principalmente por causa da distribuição feita em parte pelo sistema da Coca-Cola.
Um relatório recente do Credit Suisse também indicou dificuldades de distribuição por parte da Heineken. Entre 29 de novembro e 6 de dezembro de 2019, pesquisadores do Credit Suisse visitaram 115 bares em um raio de 118 quilÒmetros em São Paulo.
De acordo com a pesquisa, a distribuição pela Heineken chegou a 85% dos bares no fim do ano passado, sendo que 66% recebem a marca Heineken de engarrafadoras da Coca-Cola, ante 60% um ano antes. A Petrópolis também melhorou a distribuição, chegando a 68% dos bares, ante 55% um ano antes. No caso da Ambev, as marcas são encontradas em 97% dos bares.
De acordo com o Credit, 19% dos bares que vendem Heineken não são atendidos pelo Sistema Coca-Cola. E entre os bares que são atendidos por essas engarrafadoras, 63% também compram Heineken de outro revendedor. Ao todo, 39% dos bares abastecidos pelo Sistema Coca-Cola têm problemas de abastecimento da marca Heineken, principalmente aqueles voltados para o público de baixa renda. As marcas distribuídas pela própria Heineken estão presentes em 34% dos bares de baixa renda, em 33% dos estabelecimentos de classe média e 43% dos de alta renda.
Fonte: Newtrade