Frigoríficos não cumprem meta ambiental

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Empresas do setor pedem mais três meses de prazo para o Greenpeace para cadastrar e monitorar seus fornecedores de gado na Amazônia

 

Quase um ano após a publicação do relatório do Greenpeace que aponta a pecuária como principal vetor do desmatamento na Amazônia, os frigoríficos avançaram no processo de cadastrar e monitorar seus fornecedores no bioma. Mas ainda não conseguem rastrear 100% da cadeia e estão revendo os prazos do compromisso assinado com a ONG em outubro de 2009.

 

Em outubro do ano passado, a promessa dos frigoríficos era cadastrar seus fornecedores dentro de um prazo de 180 dias. Os principais frigoríficos que têm fornecedores de carne na Amazônia, como Marfrig, Minerva e JBS Friboi, pediram mais três meses de prazo para concluir o monitoramento de suas cadeias.

 

Na última reunião dos frigoríficos com o Greenpeace, no início do mês, representantes da indústria alegaram dificuldades no rastreamento da cadeia. "Enquanto os frigoríficos que têm fornecedores não monitorarem 100% da cadeia, será impossível afirmar que não existe mais gado em área de desmatamento", diz Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace.

 

O frigorífico Marfrig, que tem boa parte de seus fornecedores localizados no Mato Grosso, conseguiu mapear pouco mais de 80% das fazendas fornecedoras localizadas no bioma amazônico. O diretor de sustentabilidade do Grupo Marfrig, Ocimar Villela, estima que os três meses a mais de prazo serão suficientes para chegar a 100% de fornecedores rastreados. "O processo está evoluindo. Há dificuldades, pois o processo também depende da vontade das fazendas", diz.

 

Regularização. Para monitorar a cadeia, as fazendas precisam fazer o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro eletrônico das propriedades nos órgãos ambientais. É por meio do CAR que é feito o georreferenciamento das propriedades e é possível verificar se está havendo desmatamento ilegal. Segundo Villela, um dos meios para estimular a regularização das fazendas é reduzindo a burocracia. O Marfrig também premiará, com viagens à Copa do Mundo na África do Sul, os fornecedores com melhores práticas ambientais. "A grande tarefa é mostrar ao mundo que o Brasil pode ter produção de carne com sustentabilidade", diz. Segundo o executivo, cresceu a pressão por parte das multinacionais que compram couro, como Nike, Adidas e Timberland.

 

A JBS Friboi, maior frigorífico do mundo e que recentemente comprou o Bertin, afirma em nota que está avançando no monitoramento dos fornecedores. "A JBS comprometeu-se a obter os pontos georreferenciados de 100% de seus fornecedores diretos localizados no Bioma Amazônico nos próximos 90 dias, e está realizando monitoramento via satélite ", diz. A área a ser monitorada possui cerca de 1,6 milhão de km² - mais de seis vezes o tamanho do Estado de São Paulo.

 

Otávio Cançado, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), argumenta que houve um grande avanço por parte dos frigoríficos até agora. "As áreas que a gente não tem georreferenciamento são de difícil acesso ou para chegar lá era preciso passar por parques nacionais", disse.

 

De acordo com ele, o cenário é mais complicado no Pará, onde há vários problemas para regularizar a situação fundiária.

 

Os frigoríficos já fizeram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal no Pará e, em maio, deverão firmar outro no Mato Grosso.

 

Consumidor continua sem saber origem do bife que vai no prato

 

Apesar do cerco ter se fechado nos últimos tempos para os frigoríficos e supermercados no quesito informação sobre a origem da carne que comercializam, o fato é que o consumidor ainda não tem como saber se a carne que chega ao seu prato está comprometida com crimes ambientais, fundiários e trabalhistas.

 

Ainda são poucas as empresas dispostas a dialogar com a sociedade com transparência. Não há demonstração de postura firme de companhias do ramo em relação à exclusão de fornecedores que agem de forma ilegal ou que não incorporem aspectos sociais e ambientais.

 

Muitas pessoas já têm a consciência de que podem, por meio de seu consumo, punir ou premiar empresas de acordo com sua responsabilidade socioambiental. Mas o exercício da cidadania só será possível se for amparado por políticas governamentais e empresariais que favoreçam a prática do consumo sustentável.

 

Considerando a urgência da alteração dos padrões de produção e consumo face às mudanças climáticas, a ausência de um sistema de rastreamento que garanta informação sobre a origem da carne é inaceitável. Empresas, por sua capacidade de operar mudanças num curto espaço de tempo, devem mudar condutas para além da imposição da lei.

 

SÃO COORDENADORAS DO INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (IDEC)

 

Para Abiec, acordo teve efeito colateral

 

A Abiec criticou o Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre frigoríficos e Ministério Público Federal no Pará e afirmou que o resultado do compromisso foi o aumento da informalidade do setor. Segundo o diretor executivo da entidade, Otávio Cançado, das 120 mil fazendas que forneciam carne no Pará, só 15% têm o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e podem continuar vendendo. "Isso estimula o aumento da exportação de boi em pé. Duvido que todos os bois vivos venham de áreas com CAR."

 

O procurador Daniel Avelino, do Ministério Público Federal do Pará, discorda. Ele diz que a informalidade sempre existiu na pecuária. "Esse é um aspecto negativo que já havia antes de firmarmos o acordo. Mas antes nem o setor formal cumpria a lei."

 

De acordo com Avelino, o setor de exportação de bois vivos também assinou o acordo. "Tanto o setor de bois vivos quanto o da carne têm a mesma restrição no Estado. O que acontece é que eles são concorrentes e há uma rixa."

 

Entre 200 e 300 propriedades têm solicitado o CAR diariamente. O documento leva um dia para ficar pronto.

 

Veículo: O Estado de São Paulo


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